A cinco dias de deixar a Presidência da República, Lula garantiu ontem que Dilma Rousseff será a sua candidata em 2014. Foi mais uma virada nas declarações do presidente, que já disse mais de uma vez que não concorrerá e insinuou diversas outras que ele próprio poderia voltar a ser candidato. A declaração veio num café da manhã com repórteres que cobrem o dia a dia do Palácio do Planalto. Lula, numa espécie de balanço dos dias finais de seu governo, também falou de diversos assuntos, como a possível extradição de Cesare Batistti e o memorial que pretende abrir sobre sua história pessoal. Falou também de salário mínimo.
Planalto
Veja os principais tópicos abordados na entrevista:
Reeleição
- Lula disse que não será candidato em 2014 e que apoiará Dilma em uma campanha pela reeleição. "Em 2014, eu trabalho com a ideia fixa de que Dilma será outra vez a candidata. É justo e é legítimo. Só existe uma hipótese de a Dilma não ser candidata, é ela não querer." Também afirmou que não será "copiloto de Dilma". "Estarei vendo o carro passar."
Pior momento
- Segundo o presidente, o pior momento de seus oito anos de mandato foi quando parte da imprensa colocou a culpa do acidente da TAM, que matou 199 pessoas em julho de 2007, no governo. "A mágoa mais profunda foi com o acidente do avião da TAM. Fomos condenados à forca e à prisão perpétua em 24 horas. Pessoalmente, a TAM foi muito pior [que o mensalão]. O outro [mensalão] foi problema político, e os partidos que tratassem de resolver. Vi editorial jogando 200 corpos nas minhas costas e depois não saiu errata."
EUA e Irã
- Lula criticou em três momentos o governo norte-americano. Disse que sempre houve uma relação de "império" com a América Latina. Depois, ao falar sobre o processo de paz no Oriente Médio, afirmou que os métodos do país são "equivocados". Disse ainda que o Brasil negociou um acordo com Teerã sobre o enriquecimento de urânio para fins pacíficos e que EUA e Europa não aceitaram por "inveja, ciumeira."
Terceiro mandato
- Lula disse que não tentou mudar a Constituição para disputar um terceiro mandato em respeito à democracia. "Acredito na democracia e acredito na necessidade de alternância. Aí você pega o terceiro e quer o quarto, aí você pega o quarto e por que não o quinto? De repente você está criando uma ditadurazinha". No último programa "Café com presidente" em sua gestão, ontem, Lula disse que foi "gostoso" governar o Brasil.
Estudo
- Lula disse que os anos de poder equivaleram a uma "pós-graduação elevada à quinta potência" e que não tem mais "idade para estudar".
Imprensa
-O presidente voltou a falar da imprensa. "Não defendo o controle da mídia, mas responsabilidade. (...) Quando faz a matéria, diz que é liberdade de imprensa, quando recebe a crítica, diz que é censura." Em um evento à tarde, ele voltou a falar da relação com a imprensa, dizendo que o que sai publicado "não pode ser uma coisa vesga".
Battisti
- Lula disse que vai decidir o caso do italiano Cesare Battisti até sexta-feira. Battisti, que está no Brasil, teve sua extradição solicitada pelo governo italiano devido a quatro mortes nos anos 70. O STF deferiu a extradição, mas deixou a palavra final para a Presidência da República. O presidente diz que seguirá "prontamente" o parecer da Advocacia-Geral da União (AGU), que tende a sugerir o refúgio político.
José Alencar
- Lula elogiou o seu vice, atualmente lutando contra o câncer (veja mais na página 15). "Foi mais do que um irmão, foi um companheiro em quem tive a mais absoluta confiança no governo."
Roda de cerveja
- Lula disse que preferiu se isolar dos amigos durante o governo. "Isso coloca o cargo de presidente menos vulnerável às rodas de cerveja, uísque, vinho." Ao contrário de Fernando Henrique Cardoso, que ao deixar a Presidência disse que sentiria falta da piscina do Palácio da Alvorada, Lula disse ter usado "muito menos" a piscina e andado menos de helicóptero."
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