O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu nesta quarta-feira, durante a cerimônia de assinatura do acordo que reajustou o mínimo para R$ 380, que o aumento é pequeno, mas é importante para quem ganha pouco. Lula aproveitou a cerimônia para mandar um recado ao Congresso, afirmando que vetará um reajuste superior ao acordado com as centrais sindicais, assim como já fez em outubro deste ano.
O acordo prevê um aumento real do salário mínimo de 5,3% a partir de 1º de abril de 2007. Também foi acertado o reajuste de 4,5% da tabela do imposto de renda da pessoa física de 2007 a 2010. O reajuste de R$ 30 do salário mínimo injetará R$ 8,5 bilhões na economia e vai gerar uma arrecadação extra de R$ 2,1 bilhões em tributos em 2007, segundo projeções do Ministério do Trabalho.
- Se alguém quiser extrapolar o acordo, eu veto, como vetei a demagogia que tentaram fazer em outubro - disse Lula, referindo-se à proposta de aumentar os benefícios da Previdência para quem ganha mais de um salário mínimo em 16,67%, que chegou a ser aprovada no Congresso e vetada pelo presidente.
Lula lembrou que neste ano também foi feito acordo com as centrais sindicais e o trabalhadores foram para o Congresso protestar contra o descumprimento do acordo.
- E eu vetei com o maior prazer - disse Lula.
O presidente reconheceu que um aumento de R$ 30 pode não ser suficiente, mas disse que representa muito para quem ganha salário mínimo.
- Pode não ser tudo o que trabalhador merece, mas não menosprezem R$ 30 para quem ganha salário mínimo - disse Lula, acrescentando que R$ 30 muitas vezes se gasta numa mesa de bar com cerveja, mas para o trabalhador que ganha o mínimo pode representar até 15 dias de sustento.
Lula ressaltou a negociação feita com as centrais para definição do atual salário e do que vai vigorar no ano que vem. De 2008 a 2011, haverá reposição da inflação acrescida do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) verificado no ano anterior. O presidente disse ainda que houve um avanço do governo e dos sindicalistas, que hoje buscam um acordo na mesa de negociações. Ainda segundo ele, no tempo em que era sindicalista o salário mínimo era apenas uma peça de ficção para os discursos do dia 1º de Maio.
- Não faz muito tempo que o movimento sindical urbano brigava por aumento de salário mínimo, como não faz muito tempo que no Brasil o governo se dispôs a discutir salário mínimo com os dirigentes sindicais urbanos. Na verdade, o salário mínimo era uma peça de ficção para discurso nosso no Dia 1º de maio. Isso valia para o (Luiz) Marinho, quando era presidente da CUT, para mim, quando eu era presidente sindical do ABC, e para todos vocês. A gente fazia um discurso no 1º de Maio, até porque a maioria das nossas categorias não representa o trabalhador de salário mínimo - disse.
Marcha
Em discursos durante a solenidade, sindicalistas comemoraram o entendimento, mas afirmaram que pretendem continuar promovendo manifestações em Brasília. O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, afirmou que, no início de março, os trabalhadores farão uma ''grande marcha'' à capital federal "em defesa do crescimento e da distribuição de renda''.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores, Arthur da Silva Santos, anunciou que sindicalistas também promoverão no próximo ano a marcha em defesa do salário mínimo. "Talvez não com a idéia de reposição salarial, mas de outros pontos'', afirmou Santos.
Paulinho, da Força, fez referência, ainda, ao fato de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, presente à cerimônia, ter defendido um valor menor para o mínimo no próximo ano.
-Ele tentou puxar para baixo o nosso aumento - disse.
Poucas horas antes de o valor de R$ 380 ser confirmado pelo Palácio do Planalto, na quarta-feira, Mantega ainda defendia um teto de R$ 367 para o mínimo em 2007.
Coube ao ministro do Trabalho, Luiz Marinho, defender o colega. Segundo Marinho, que foi presidente da CUT, ao puxar o valor para baixo, Mantega contribuiu para a negociação, ao abrir a possibilidade de negociação em torno de um valor que não ponha em risco a estabilidade econômica. Para o ministro, o governo não pode dizer logo no início da negociação o valor que tem condições de arcar sob o risco de o outro lado pedir mais.
Reformas
O presidente aproveitou para sinalizar que as reformas, incluindo a trabalhista e a previdenciária, serão feitas mediante negociação com as centrais. Lula disse que o governo vai realizar fóruns para discutir essas reformas. Para ele, reformas feitas somente com discussão entre técnicos não dão certo.
- Vamos tentar discutir sobre um diagnóstico muito correto quais são as soluções que cada um de nós quer deixar para os nosso filhos no mundo do Trabalho, no mundo da Previdência Social e em tantas outras áreas - disse Lula
O presidente disse ainda que no segundo mandato o governo tem que avançar e que ele não foi eleito para fazer a mesmice. Segundo Lula, o país já viveu uma experiência de crescer acima de 10%, durante o governo militar, mas no mesmo período o poder de compra do salário mínimo caiu.
- Eu, agora, fui reeleito por mais quatro anos e não quero fazer o mesmo que já fiz nos primeiros quatro anos. Já fiz, está feito. Agora temos que fazer uma coisa nova. E, pelo amor de Deus, não cometam o erro de fazer a palavra desenvolvimento ou crescimento econômico sem combinar junto com ela a palavra distribuição de renda, porque este país, eu já disse a vocês na outra reunião, este país, quando o PIB cresceu 13,94% em 1973, o salário mínimo teve uma perda real de 3,4% - discursou.
O ministro do Trabalho negou que o aumento do mínimo tenha retardado o anúncio do pacote econômico. Segundo Marinho, as medidas não foram anunciadas por causa das festas natalinas.
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