O ex-presidente Lula viaja a Brasília nesta terça-feira (24) para aplacar a turbulência no PT, que tem afetado a articulação política do governo e as negociações sobre a condução da CPI criada para investigar as ligações políticas de Carlinhos Cachoeira, informaram à agência Reuters fontes ligadas a Lula e ao governo.
A face mais visível dos problemas no partido do governo está na disputa pela definição do nome do deputado que ficará responsável pela relatoria da CPI mista que vai apurar as ligações políticas de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar um esquema de jogos ilegais. Até mesmo denúncias contra integrantes do governo já são atribuídas a desentendimentos partidários.
Segundo uma fonte que falou sob condição de anonimato, o nome com maior apoio dentro do partido, que conta com a simpatia de Lula, é o do ex-líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Ele sofre, entretanto, forte resistência da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que tem o apoio dos líderes do PT e do governo na Câmara, Jilmar Tatto (PT-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Tatto tenta desde a semana passada construir um nome alternativo. A primeira opção havia sido o deputado Odair Cunha (PT-MG). Desde sexta-feira, entretanto, o mais cotado é o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). O anúncio será feito até a noite de terça-feira, prazo para a indicação dos nomes.
Lula vê a disputa como um sinal do acirramento das relações entre parlamentares do partido no Congresso e que já teria atingido a ministra responsável pela articulação política, segundo a fonte petista, que pediu anonimato. "Há a compreensão de que a ministra está envolvida como parte da disputa e tem dificuldade de mediar", afirmou a mesma fonte.
O ex-presidente havia planejado estar em Brasília na quarta-feira (25) para participar do lançamento de um documentário sobre a posse de Dilma. Segundo pessoas próximas, decidiu antecipar em um dia a viagem para manter as conversas políticas às vésperas do início dos trabalhos da CPI mista.
Segundo petistas, a disputa entre grupos do PT, que tem suas origens na eleição para presidência da Câmara, no início de 2011, se acirrou nos últimos meses. Os desentendimentos entre Ideli e Vaccarezza levaram, segundo uma fonte do Planalto, à saída do deputado da liderança do governo na Casa.
Outra fonte do PT afirma que Lula está preocupado com o aprofundamento da disputa dentro do partido e suas consequências para a governabilidade, ainda mais às vésperas de uma CPI em que o governo é o alvo preferido da oposição.
A fonte próxima de Lula afirmou que as recentes críticas públicas feitas por petistas à articulação política do governo "acenderam a luz vermelha no radar do ex-presidente".
Lula foi um dos principais apoiadores da instalação da CPI mista. Mesmo no Hospital Sírio-Libanês, onde faz tratamento contra os efeitos da radioterapia para tratar um câncer de laringe, ele se reuniu com lideranças políticas do PT e aliados. A passagem por Brasília é vista como um retorno à política após seis meses de tratamento contra o câncer.
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