Lula nem foi preso, mas o fato de ter sido conduzido coercitivamente para depor na Polícia Federal , nesta sexta-feira (4), já é o suficiente para ter um peso imenso na política nacional.
LAVA JATO: Acompanhe mais notícias sobre a Operação
Figura simbólica do petismo e das esquerdas, Lula mostrou mais uma vez seu poder de dividir o país: enquanto militantes e fãs clamavam por sua inocência e gritavam contra a Operação Lava Jato outros, literalmente, soltaram rojões.
É evidente que o depoimento de Lula pode ser o primeiro passo de uma história maior. Na Lava Jato, até aqui, os mandados de busca e apreensão têm sido feitos depois de delações premiadas e servem para conseguir provas que sirvam para a abertura do processo.
Mais do que isso, na delação de Delcídio do Amaral (PT-MS), vazada pela IstoÉ, há indícios de que o senador acusou Lula de obstruir a Justiça, tentando calar testemunhas.
Dados todos os elementos, não é difícil imaginar que Lula possa ser preso nos próximos dias. A prisão, antes de sentença, só se justificaria caso se comprovasse que ele pode atrapalhar as investigações – exatamente aquilo de que Delcídio parece estar acusando-o. Também será necessário ver o que a PF encontrou no cumprimento dos mandados expedidos por Sergio Moro.
Veja, passo a passo, os principais fatos do dia em que Lula foi levado à PF para depor
Leia a matéria completaDesde já, é possível dizer que algumas coisas mudam depois da semana tumultuada da Lava Jato: para Moro e os procuradores da Lava Jato, o passo é decisivo: a operação chegou a um ponto crucial; para o PT, o discurso passou a ser o de uma “ração necessária”; para a oposição, surgiu o temor de que o governo não venha a ser o único afetado pelas delações de Delcídio, que já foi tucano um dia.
O que muda para a Lava Jato?
Sergio Moro assinou o documento mais ousado dos dois anos da Lava Jato ao aprovar a condução coercitiva de Lula. O juiz alegou que aceitou que o ex-presidente fosse ouvido assim só para evitar tumultos que ocorreriam em caso de depoimento com hora marcada.
Para policiais federais e procuradores, a sequência dos fatos pode ser decisiva para a Lava Jato. Se pedirem a prisão de Lula e não conseguirem provar sua culpa, a avaliação é de que a operação perde credibilidade. Se o condenarem, terão mesmo assim se transformado em alvo do PT, que alega ver parcialidade na operação. A investigação contra Eduardo Cunha (PMDB) pode diminuir um pouco o tom do discurso petista.
O que muda para o PT?
O partido, segundo o cientista político Renato Perissinoto, da Universidade Federal do Paraná, sofreu seu mais duro golpe desde que começou a ser investigado no mensalão, em 2005. Lula é a grande figura do partido e o fato de estar sendo exposto em um caso de corrupção fragiliza a legenda.
Por outro lado, dá a possibilidade de o partido sair das cordas e usar o ex-presidente como “mártir”, como sugeriu nesta sexta-feira o próprio Lula, em discurso no diretório paulista do partido. O PT pretende colar na Lava Jato o selo de parcial, midiática e golpista. Lula, com seu poder de convencimento, está agora à frente desse discurso.
O que muda para Lula?
A chance de Lula ser preso agora é mais do que real, é iminente. Basta que a PF avise a Sergio Moro que encontrou algo ilegal durante as buscas e, provavelmente, o juiz autorizará a detenção temporária. Advogados ouvidos pela reportagem com experiência na Lava Jato dizem que “gente foi presa por menos” sob a guarda de Moro.
O ex-presidente também deixou claro nos últimos dias que deixou de lado sua faceta “paz e amor” e que pretende ser mais incisivo nas críticas à Lava Jato e à oposição. O discurso desta sexta, incitando a militância, foi o ponto de virada neste sentido.
O que muda para a oposição?
A colunista Monica Bergamo, da Folha de S.Paulo, afirmou nesta sexta que o PSDB pretende desacreditar a delação de Delcídio do Amaral. Embora a maior parte do que Delcídio disse, segundo se sabe até o momento, seja prejudicial ao PT, o partido sabe que o senador já foi tucano e que entrou na Petrobras pelas mãos do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Além disso, parlamentares da oposição começaram a aparecer na delação. Os tucanos nesta sexta fizeram discursos moderados, com Fernando Henrique e Aécio parecendo dispostos a não espezinhar Lula.
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