Em reunião com o Conselho Político, nesta terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse aos participantes que não vai desmilitarizar o setor de controle de vôos neste momento porque é uma ação que demanda muito estudo técnico e tempo para ser implementada. Essa é uma das principais reivindicações dos controladores de vôo. Lula justificou que na noite de sexta-feira ficou dividido entre respeitar a hierarquia militar e atender aos interesses imediatos dos usuários, por isso, optou pela segunda opção.
Agora, disse Lula aos participantes da reunião, a palavra está com a Aeronáutica e o momento é de restabelecer a ordem absoluta.
- Só depois de restabelecida a ordem voltaremos a discutir mudanças no setor. Eu entendo as razões da greve, mas não se pode admitir isso na Aeronáutica. Se admitirmos isso, teremos greves em todos os serviços essenciais do país - disse Lula, segundo o relato de um líder da base aliada.
Na véspera, o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, defendeu a necessidade de o governo cumprir o acordo.
Após a reunião, o ministro do Planejamento Paulo Bernardo, esteve, por pouco mais de uma hora e meia, com representantes dos controladores de vôo. Bernardo disse ter explicado aos sindicalistas que a desmilitarização do setor não pode ser feita por Medida Provisória. A mudança depende de um projeto de lei, debatido no Congresso. E deixou o encontro afirmando que o governo só vai negociar com os profissionais se houver normalidade no tráfego aéreo.
- O governo aceita negociar, mas não vai negociar com a faca no pescoço - afirmou o ministro, escalado para fechar acordo na sexta-feira do motim e fazer promessas aos controladores de que não haveria punição.
Paulo Bernardo disse que nunca houve comprometimento de que haveria anistia a militares insubordinados.
Na reunião - da qual os controladores saíram sem dar entrevistas - os profissionais teriam garantido que não fariam paralisação na Semana Santa e que estão dispostos a negociar. Eles teriam dito que são patriotas e que o advogado deles (que havia dito que, caso o governo recuasse, haveria novo motim) é inexperiente.
Na reunião do Conselho, o presidente também demonstrou que pretende endurecer com os controladores de vôo que se amotinaram na última sexta.
- O governo não continuará a negociação se não for mantida a normalidade - disse o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS).
O presidente também disse que a decisão sobre a punição dos controladores caberá à Aeronáutica . Segundo o presidente da Academia Brasileira de Direito Constitucional (Abdeconst), Flávio Pansieri, os controladores de vôo militares que se amotinaram na última sexta-feira poderão ser condenados a penas que variam de quatro a oito anos de prisão pelo Código Penal Militar. Ele lembrou que os militares não têm direito de greve.
O presidente Lula reforçou que não irá quebrar a hierarquia militar no caso da crise aérea e, segundo participantes da reunião que acontece em Brasília, Lula nomeou o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, como responsável pela transição durante a desmilitarização do controle de tráfego. O presidente se disse "aborrecido" com os controladores de vôo, que anunciaram que manterão um estado de greve.
Lula também admitiu que poderá fazer pronunciamento à nação sobre crise aérea caso os controladores de vôo continuem radicalizando suas posições.
- Se não houver acordo, ele vai fazer pronunciamento - disse o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP).
A possibilidade foi confirmada pelo líder do PTB, Jovair Arantes (GO):
- Se for necessário, ele vai falar à nação - disse.
O Conselho Internacional de Aeroportos disse que se não houver invetimentos, a situação do setor aéreo brasileiro pode piorar.
Mesmo depois da negociação, os controladores civis decidiram entrar em estado de greve. O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo - que representa os controladores civis -, Jorge Botelho, disse que a categoria decidiu, em assembléia, por um indicativo de greve, ou seja, o trabalho poderá ser suspenso a qualquer momento. Mas dirigente da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo, Ulisses Fontenele, disse que os controladores não farão uma nova paralisação.
A crise do setor áereo está fazendo que os turistas troquem os aviões por ônibuis e já provocou cancelamento de 40% dos pacotes turísticos vendidos nos últimos seis meses. Aeroportos voltaram à normalidade
Depois do caos (veja as imagens ) do fim de semana, a situação dos aeoroportos se tranqüilizou. Hoje, movimento está normal. Segundo da Infraero, dos 444 vôos programados entre meia-noite e meio-dia, apenas 29 (3,7%) atrasaram por mais de uma hora, e cinco foram cancelados. No meio da tarde, o aeroporto de Congonhas teve que ser fechado por causa de ventos muito fortes.
A nova crise dos aeroportos fez ressurgir com força no Congresso o movimento pela criação da CPI do Apagão Aéreo. Reunidos nesta segunda-feira, líderes afirmam que últimos episódios tornam irreversível a criação da comissão para apurar caos aéreo.
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