Brasília (AFP e AE) O líder do PT no Senado e presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista dos Correios, que investiga as denúncias de corrupção no Brasil, Delcídio Amaral, considera que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda deve ao povo brasileiro uma explicação sincera sobre a grave crise provocada por acusações de corrupção proferidas contra o Partido dos Trabalhadores (PT).
"O presidente é um homem de bem, sério, que goza de grande popularidade, comprometido com a ética, com o respeito à coisa pública. Agora, é evidente que não seria ruim se ele falasse sobre essa questão de peito aberto, até para mostrar não só a sinceridade que é uma de suas características, mas também que se trata de um caso isolado, e que as pessoas de bem não podem ser prejudicadas por essas denúncias", declarou Amaral em entrevista concedida à AFP.
Em uma de suas intervenções sobre a crise que abala o Brasil há mais de dois meses, Lula afirmou que o PT limitou-se a manter uma prática "sistemática" ao criar um caixa dois para financiar suas campanhas eleitorais.
Amaral não ficou satisfeito com a explicação do presidente. "Não me satisfaz porque é uma generalização, e eu acho que nenhuma generalização é boa. Eu tenho certeza absoluta de que muitos parlamentares fizeram campanhas modestas e declararam ao partido tudo que gastaram. Não podemos generalizar, essas são práticas utilizadas, ninguém nega isso, mas não podemos dizer que valem para todos", afirmou.
Amaral também não se convenceu com outras palavras de Lula, que acusou as "elites" de tentar fazê-lo "abaixar a cabeça" ressaltando suas origens operárias. "Eu não acredito nisso. Acho que esse discurso de luta de classes é demodé", sustentou Amaral.
O presidente da CPI afirmou que ele mesmo recomendará a Lula que tome a decisão de se dirigir aos brasileiros.
"Nestas duas últimas semanas não falei com ele, foram duas semanas de várias declarações, vários discursos, mas com certeza quando ele puder vou conversar com ele, eu acho que uma palavra dele neste momento é importante", frisou.
Intervenção
Uma intervenção de Lula deve servir para "demonstrar que se trata de uma crise localizada, que não pode ser generalizada ao PT nem ao Congresso. E ao mesmo tempo acho também que seria importante um discurso, uma palavra dele com relação à agenda, uma agenda positiva, uma agenda de crescimento", considerou.
Amaral conversará na próxima semana com os principais líderes da oposição e do governo para evitar que as investigações paralisem a agenda do Congresso no segundo semestre e cause instabilidade econômica. "A CPI não impede a discussão de uma agenda mínima de votações, e não podemos viver só de CPI", afirmou, ressaltando também que a comissão pode até contribuir com medidas, a exemplo do aperfeiçoamento do sistema financeiro, que precisaria de um controle maior. "É claro que precisamos fazer isso", disse. Amaral anunciou que, na próxima semana, a CPI entrará numa nova fase, com a divisão dos trabalhos.
Na próxima semana ainda, o presidente da CPI dos Correios deve ter uma reunião com o presidente da CPI do Mensalão, senador Amir Lando (PMDB-RO), para discutir mecanismos de cooperação entre as duas comissões.
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