Ao receber uma equipe da Polícia Federal em seu apartamento, em São Bernardo do Campo, às 6h de sexta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que queria prestar seu depoimento naquele local e que só sairia de lá algemado. Após conversar por telefone com seu advogado, Roberto Teixeira, no entanto, concordou em ser levado para o Salão Presidencial do Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul de São Paulo, em uma viatura descaracterizada — e sem algemas.
As informações constam em documento assinado pelo delegado da PF Luciano Flores de Lima, endereçado ao juiz Sérgio Moro e anexado neste domingo ao processo. Lima chefiou a equipe que cumpriu o mandado de condução coercitiva expedido contra Lula na última sexta-feira. O delegado também conta que parlamentares tentaram forçar entrada na sala onde o ex-presidente prestou depoimento, no Aeroporto de Congonhas, e que a defesa do ex-presidente gravou as três horas de depoimento.
O delegado afirma, no documento, que chegou ao apartamento do ex-presidente às 6h e que foi o próprio Lula quem abriu a porta. Após escrever que entregou os mandados de busca e apreensão para que Lula lesse, o delegado relata um breve diálogo que teve com o ex-presidente:
“Informei ao ex-presidente Lula que deveríamos sair o mais rápido possível daquele local, em razão da necessidade de colhermos suas declarações, a fim de que sua saída do prédio fosse feita antes da chega de eventuais repórteres e/ou pessoas que pudessem fotografar ou filmar tal deslocamento. Naquele momento, foi dito por ele que não sairia daquele local, a menos que fosse algemado. Disse ainda que se eu quisesse colher as declarações dele, teria de ser ali. Respondi então que não seria possível fazer sua audiência naquele local por questões de segurança.”
Só depois desse diálogo, Lima informou ao ex-presidente que tinha um mandado de condução coercitiva para cumprir caso Lula não o acompanhasse. Depois de conversar com Teixeira, Lula deixou o prédio de São Bernardo por volta das 6h30. O delegado mostra, no texto, preocupação em evitar que Lula fosse filmado ou fotografado. No texto, diz que pediu a ele “que se mantivesse em posição atrás do motorista e sem aparecer entre os bancos, pois assim impediria que qualquer pessoa que estivesse na rua conseguisse captar sua imagem.”
Já no Aeroporto de Congonhas, Lula e Teixeira conversaram a sós por 15 minutos, ainda segundo o delegado. O depoimento, que durou três horas, foi gravado em áudio e vídeo tanto pela Polícia Federal quanto pelos advogados de Lula, que utilizaram um celular para fazer as imagens. O ex-presidente declarou que prestaria as “declarações necessárias” e que não pretendia ficar em silêncio. Após a assinatura do termo de declarações, foi permitida a entrada de parlamentares que “batiam na porta e chegaram a forçar para entrar naquele recinto, durante a audiência”, ainda de acordo com o que relatou o delegado Lima.
Lima termina seu relatório dizendo que ofereceu, “de forma insistente”, segurança da Polícia Federal para acompanhar o ex-presidente na saída do aeroporto. Lula respondeu que “preferiria sair dali com seus companheiros de partido e seus advogados, em veículo próprio”.
O Instituto Lula disse que não comentaria as informações descritas no relatório da PF. Na sexta-feira, o ex-presidente, seus advogados e aliados políticos haviam criticado a condução coercitiva. O instituto havia classificado a medida como “arbitrária, ilegal e injustificável”.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura