Ao discursarem ao fim de seu encontro nesta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega americano George W. Bush, mantiveram um discurso afinado.
A retomada das conversas no âmbito da Rodada de Doha e da Organização Mundial do Comércio foram o principal tema. O presidente Lula também defendeu a aproximação do Brasil e dos EUA de países mais pobres, como os da África , mas não houve qualquer anúncio concreto.
Ao ratificar declarações anteriores de Bush, que dissera não ser possível estabelecer um prazo para que haja conclusões. Em tom jocoso, Lula chegou a dizer que é preciso, antes, encontrar "um ponto G" nas negociações .
- Estamos mais próximos do que nunca de uma conclusão bem sucedida das negociações de Doha. Estamos andando com solidez para encontrarmos o chamado ponto G para fazer o acordo - disse, numa alusão ao G-20, o grupo dos 20 maiores países em desenvolvimento que negociam o fim das barreiras comerciais com os países ricos.
E completou:
- Eu disse para o presidente Bush que se o Brasil e os Estados Unidos encontrarem entre si um ponto de equilíbrio, poderemos fazer ofertas a outros países - .
O presidente brasileiro fez questão de ressaltar as complexidades que envolvem Doha.
- Nós, no Brasil, temos que negociar junto com o G-20 e a União Européia, que é um conjunto de países. Além de convencermos os países mais ricos, temos que convencer também os parceiros mais pobres a aceitrem o acordo.
Segundo o presidente, o sucesso das negociações não dependem mais de aspectos meramente econômicos.
- O problema agora é eminentemente político. É sobre se vamos ter, como lideranças mundiais, competência para decidir para melhor ou para pior o futuro de muilhões de seres humanos que dependem deste acordo.
Bush, por sua vez, se mostrou aberto à retomada das conversas e disse que o assunto voltará a ser debatido durante visita de Lula a Washington, marcada para o fim do mês.
Questionado sobre a possibilidade de o acordo dar certo, mesmo diante do fracasso das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), Bush preferiu se esquivar das comparações .
- Desde que começamos a discutir a Alca nos EUA, já houve uma série de acordos regionais e bilaterais. Temos dificuldades, mas isso não significa que devemos desencorajar um acordo global. A questão importante em Doha é que esta é uma oportunidade de o mundo se juntar para erradicar a pobreza - disse.
O clima da entrevista coletiva foi de descontração. Bush falou de improviso e, por diversas vezes, deixou escapar gargalhadas durante a fala de Lula.
Por exemplo, quando um jornalista questionou ambos sobre a sobretaxa cobrada sobre o etanol brasileiro nos Estados Unidos. No dia anterior, Lula havia dito que os EUA praticam uma política de subsídios "nefasta" .
Lula respondeu:
- Se eu tivesse essa capacidade de persuasão que você acha que eu tenho, já teria conseguido convecer o presidente Bush de tantas outras coisas que eu não posso nem falar aqui - afirmou, arrancando risadas de Bush e dos participantes da entrevista coletiva.
Mais cedo, ambos os países já haviam acertado um acordo em torno do etanol . A discussão sobre o fim da sobretaxa do etanol brasileiro que entra nos EUA, no entanto, ficou fora de pauta. Segundo Bush, não há nada que possa ser feito agora .
- Ela permanecerá até 2009 e depois disso o Congresso dará um jeito - afirmou.
Veja outros assuntos que foram tema do encontro:
Hugo Chávez: questionado sobre o impacto de sua vistia a América Latina e sobre a possibilidade de ela dar mais subsídios ao presidente da Venezuela atacar a política de Washington, Bush preferiu nem tocar no nome de seu desafeto .
- Eu trago a boa vontade dos EUA à América do Sul, por isso estou aqui. A minha viagem é para explicar da maneira mais clara possível que o nosso país é generoso e tem compaixão - disse.
Iraque: O presidente voltou a defender a democracia como única forma de se alcançar a estabilidade no Iraque. E falou sobre a expectativa em torno da conferência regional que acontecerá neste fim de semana, em Bagdá.
Política externa: O presidente americano também defendeu a política externa dos Estados Unidos e negou que o país tenha dado as costas à América Latina . Ele também falou os esforços do país em investir em regiões mais pobres, citando programas de saúde na Guatemala.