Sirte, Líbia - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva por pouco não elogiou abertamente as ditaduras da África ontem na Cúpula da União Africana, em Sirte, na Líbia. Disse que não se pode ter "preconceito" contra líderes não democráticos.
Logo após abrir seu discurso chamando o ditador líbio Muamar Gaddafi de "meu amigo, meu irmão e líder", o presidente brasileiro elogiou "a persistência e a visão de ganhos cumulativos que norteia os líderes africanos" e ressaltou que "consolidar a democracia é um processo evolutivo".
Depois, em entrevista coletiva, Lula criticou a imprensa pelo que chamou de "preconceito premeditado" por sua proximidade com ditadores. "Eu não trabalho com preconceito, porque se trabalhasse, não estaríamos nem na ONU (Organização das Nações Unidas), tamanha é sua diversidade."
Lula acabou sendo o único convidado de honra de fora da África a comparecer à cúpula. Era prevista a presença do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad; do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi; e do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon. Os três cancelaram a participação.
O cancelamento da presença de Ahmadinejad evitou ainda que a diplomacia brasileira tivesse de justificar as fotos do brasileiro ao lado do presidente iraniano, reeleito em um pleito contestado pela oposição. O iraniano ficaria sentado justamente ao lado de Lula.
Ainda assim, o presidente brasileiro disse que a ausência de Ahmadinejad não tinha sido boa para a cúpula. Lula já havia dado declarações polêmicas apoiando a legitimidade da reeleição de Ahmadinejad e desqualificando os protestos opositores como atitude de torcida perdedora.
Centro das atenções
Durante a cúpula, Lula acabou sendo o centro das atrações. Em seu discurso, para uma plateia de países pobres, responsabilizou as nações industrializadas pela crise do sistema financeiro internacional. "Durante muito tempo, os países ricos nos viram apenas como uma periferia distante e problemática. Hoje, somos parte essencial da solução da maior crise econômica das últimas décadas. Uma crise que não criamos." Foi aplaudido por chefes de Estado e de governo e por líderes tribais africanos.
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