O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, está com os dias contados no cargo. Incomodados com mais um escândalo batendo à porta do partido, deputados petistas procuraram na terça-feira (17) o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava em Brasília, e pediram que ele entre no circuito para convencer Vaccari a se afastar da Secretaria das Finanças da legenda.
Alvo da Operação Lava Jato, que apura esquema de corrupção e desvios de recursos na Petrobras, Vaccari foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público Federal por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. A situação do tesoureiro constrange o PT e a presidente Dilma Rousseff, mas ele ainda resiste a se licenciar. Até mesmo na corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), integrada por Vaccari, petistas pregam seu afastamento para preservar o partido e o governo.
O diretório do PT no Rio Grande do Sul aprovou documento que pede a saída de Vaccari e vai levar o assunto à próxima reunião da Executiva Nacional, no dia 16 de abril. “Até agora não recebemos qualquer pedido e Vaccari não apresentou intenção voluntária de se afastar”, disse o presidente do PT, Rui Falcão. “Nós achamos que ele precisa dar uma explicação ao partido”, comentou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Ministros do PT e dirigentes da legenda pressionam o tesoureiro e usam o argumento de que ele precisa se defender fora do cargo. Citam como exemplo Ricardo Berzoini, atual ministro das Comunicações, que em 2006 foi acusado de envolvimento no “escândalo dos aloprados”, como foi batizada a compra de um dossiê contra tucanos. À época, Berzoini era presidente do PT e coordenava a campanha de Lula à reeleição. Foi afastado, mas retornou ao comando do partido em 2007.
“Se algum filiado do PT comprovadamente estiver envolvido em ilícitos, em atos de corrupção, não continuará no nosso partido”, afirmou Falcão. Indagado se a regra valeria para Vaccari, o presidente do PT respondeu: “Vale para qualquer filiado que seja condenado por atos de corrupção”.
O objetivo da cúpula petista, agora, é construir um acordo para que a saída do tesoureiro pareça uma iniciativa dele. O mal-estar sobre a crise que envolve o PT diante da Lava Jato também ocupou boa parte do jantar entre Dilma, Lula, Falcão e ministros do PT, na segunda-feira.
Naquele dia foi divulgado que o vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, disse, em depoimento à força-tarefa da Lava Jato, que Vaccari pediu a ele uma doação de R$ 10 milhões, a título de propina atrasada de uma diretoria da Petrobras, “por volta de 2010”.
Ao ser questionado sobre qual a diferença da situação de Vaccari com a do então deputado André Vargas, Falcão evitou esticar a polêmica. “No caso de Vargas havia prova cabal de que ele tinha usado um avião privado (do doleiro Alberto Youssef) para si e para a família. É um deslize ético. No caso de Vaccari há uma denúncia não comprovada”, argumentou. No ano passado, Vargas foi obrigado a se desfiliar do PT 25 dias depois de revelada sua relação com Youssef, delator da Lava Jato.