Estratégia
PT vai "dançar conforme a música"
Agência Estado
Belo Horizonte e São Roque (SP) - Enquanto o presidente Lula e governador José Serra trocavam gentilezas em São Paulo, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, manteve em Belo Horizonte (MG) a artilharia contra o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Dulci acusou Guerra de ter feito "ataques duros, grosseiros e até pessoais" à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff pré-candidata petista ao Palácio do Planalto.
Já o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra, afirmou ontem que a troca de ataques entre PT e PSDB é assunto encerrado. Apesar disso, no estilo "morde e assopra", ele disse que o PT vai dançar conforme a música. "Se tocar valsa, vamos dançar valsa. Se tocar heavy metal, vamos dançar também." Anteontem, Dutra e o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), assinaram nota chamando Sérgio Guerra de "jagunço" e José Serra de "hipócrita".
Itapira e Campinas (SP) - Num esforço de parecerem alheios à troca de ofensas entre PT e PSDB, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de São Paulo, o presidenciável tucano José Serra, riram e fizeram brincadeiras sobre futebol em um evento público no qual se encontraram ontem, durante a inauguração de uma unidade do laboratório farmacêutico Cristália, em Itapira, a 159 quilômetros de São Paulo. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência e provável adversária de Serra, também esteve no encontro.
Dirigentes petistas e tucanos passaram a semana trocando ofensas após Dilma ter dito que o PSDB interromperá os avanços do governo Lula caso volte ao governo. Serra disse que não entraria na "baixaria", mas acabou acusado de "hipócrita" pela direção do PT. O clima cordial de ontem também contrastou com o de quinta-feira, quando Lula teria dito, segundo assessores presidenciais, que o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), era um "babaca" ao tentar desqualificar o governo federal.
Lula e Serra visitaram juntos as instalações do laboratório, discursaram e assistiram sentados lado a lado às falas de outras autoridades diante de uma plateia de 400 pessoas, a maioria funcionários da companhia. Eles também almoçaram juntos com diretores da empresa. Logo no início do discurso, Serra perguntou qual era o time preferido do público. Ao perceber que os torcedores do Corinthians eram maioria, o governador, palmeirense, sorriu e disse: "Vocês vejam que o governador não pode ser perfeito". Corintiano, Lula riu.
Na sua vez de falar, o presidente aproveitou a deixa e disse que o fato de ter ido ao evento só poderia ter sido vontade de Deus. "Nada é mais importante para um corintiano do que ver um palmeirense perceber que aqui tem tão pouco palmeirense e tanto corintiano. Serra, eu já ganhei o dia." Sentado numa cadeira próxima ao presidente, o paulista, um pouco sem jeito, também riu.
Os gracejos entre o presidente e o governador ao microfone se repetiram em cochichos entre os dois, enquanto outras autoridades discursavam. Se no início da cerimônia Lula entrou sorridente e Serra com semblante fechado, bastou o presidente puxar papo para quebrar o gelo.
Um bilhete enviado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) a Lula provocou gargalhadas entre o presidente e o governador. Lula revelou durante o discurso que o senador escrevera no papel a história de um ex-dirigente da Cristália que, alguns anos atrás, havia saído da direção da empresa para se filiar ao PT. "Naquela época, disseram a ele que patrão não podia entrar no PT."
Serra, Lula e Dilma voltaram a se encontrar ontem em outra solenidade em São Paulo a inauguração do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CBTE), localizado em Campinas. Nos discursos, o presidente e governador voltaram a fazer brincadeiras um com o outro.
Lula, porém, aproveitou para dar uma leve alfinetada nas críticas do PSDB ao PAC. "Quando o Sergio Rezende (ministro da Ciência e Tecologia) foi fazer o PAC da Ciência e Tecnologia foi a primeira vez que vi a comunidade científica por unanimidade aprovar um programa, com a consciência de que aquele não era um programa do ministro", disse Lula.
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