A oposição acredita que com o depoimento do publicitário Duda Mendonça na CPI dos Correios o governo não tem mais como evitar sua ligação com o esquema montado pelo empresário Marcos Valério. Depois que Duda relatou que Valério lhe pedira para abrir uma conta num paraíso fiscal para receber dívidas do PT, parlamentares de PFL e PSDB começaram a falar abertamente na possibilidade de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O agravamento da crise também preocupa o Palácio do Planalto. Lula vai gravar um pronunciamento à nação durante a reunião ministerial desta sexta-feira, marcada para começar às 9h, na Granja do Torto. A gravação será feita pela Radiobrás, que depois fará a distribuição para a imprensa.
Lula passou o dia em reuniões com seus principais auxiliares, como os ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e da Fazenda, Antonio Palocci, além do presidente do PT, Tarso Genro. Foi Tarso, inclusive, um dos que sugeriram que o presidente faça um pronunciamento à nação, convoque imediatamente o Conselho da República, faça uma mini-reforma política e envie ao Congresso uma lei de combate a crimes financeiros.
"São declarações (de Duda Mendonça) muito graves que mostram que havia uma articulação internacional totalmente irregular, que tem que ser investigada nas suas raízes. Tem que ver o que tem por trás desse processo todo. Quem é que financia, quem é que paga. Porque esse dinheiro está lá fora, porque isso não é somente uma questão de natureza da legislação eleitoral, diz respeito a outras questões relacionadas com crimes de natureza financeira e tem que ser investigadas na sua radicalidade", disse Tarso Genro.
Líderes da oposição se reuniram e iniciaram uma ampla consulta jurídica para identificar os crimes cometidos pelo PT na campanha eleitoral e a repercussão desses atos sobre o mandato presidencial. Participaram da conversa o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), o líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN), e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), mas o tom ainda é de cautela. "Vamos agir com prudência, mas com inflexibilidade no rumo. É inevitável o desfecho, mas não podemos ter precipitação", analisou Agripino.
O principal motivo para tantos cuidados é a avaliação de que a situação de Lula é diferente daquela que derrubou Fernando Collor de Mello em 1992. A oposição acredita que Lula ainda tem boa capacidade de mobilizar a opinião pública e teme que, ao pedir seu impeachment, termine por transformá-lo em vítima.
Também há expectativa de alguma reação do presidente, como o pronunciamento marcado para esta sexta, e cuidado com a repercussão dos fatos sobre a economia. "Se eu fosse o presidente, faria alguma coisa", disse Tasso, ponderando: "Impeachment é coisa séria e não pode ser jogado assim. Há muito a mastigar antes disso".
Mas houve gestos que avançaram em relação à posição oficial dos partidos de oposição. O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), por exemplo, afirmou que o impeachment era inevitável a essa altura e passou bom tempo na sessão da CPI ao lado do filho, o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Do lado tucano, o senador Álvaro Dias (PR) fez discurso no mesmo tom, no plenário.
"Este é o momento de maior melancolia que jamais vivi. Estamos no limiar de uma crise política sem precedentes. É inevitável, a partir de hoje, discutirmos a palavra impeachment".
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), decretou o fim do governo Lula e considerou que é impossível não tratar da discussão do impeachment a partir de agora. "O governo acabou. Impeachment, para o PSDB, era quase um palavrão. Agora, só um brasileiro muito alienado diria que isso não existe".
Segundo o senador, está clara a prática de crimes como sonegação fiscal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e abertura ilegal de contas externas. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) afirmou que cada vez mais se confirma a participação do governo nas irregularidades apuradas pelas CPIs.
"O presidente está desgastado, a situação do governo piorou muito, mas não desejo o impeachment de Lula, quero derrotá-lo nas urnas em 2006. Não adianta pedir o impeachment nesse momento, mas está se configurando a presença do governo nesses atos ilícitos. É preciso investigar as estatais", disse.
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