Entrevista: Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
"Não acredito que esse debate (sobre o terceiro mandato presidencial) volte. Não é bom para a democracia."
A menos de 20 meses das eleições de 2010, o presidente Lula já visualiza nomes para sair vitorioso na sucessão aos palácios do Planalto e Iguaçu. Na campanha nacional, ele permanece sem disfarçar os elogios à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). No Paraná, projeta uma possível aliança em torno do senador Osmar Dias (PDT) ou dos ministros do Planejamento, Paulo Bernardo (PT), e da Agricultura, Reinhold Stephanes (PMDB).
Lula falou sobre 2010 em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, concedida por ocasião dos 90 anos do jornal, comemorados no dia 3 de fevereiro. O presidente respondeu às perguntas por e-mail, o que não permite possibilidade de réplica à reportagem. Não houve, contudo, qualquer restrição de conteúdo e as respostas estão publicadas na íntegra.
Entre os citados por Lula na disputa pelo governo paranaense, a surpresa é Stephanes. O ministro tem declarado que não pretende concorrer ao Palácio Iguaçu e que preferiria fazer parte de uma aliança encabeçada por Osmar Dias. "Não faz parte do meu projeto de vida ser governador, até porque já temos outros bons nomes na disputa", afirma o ministro.
A declaração do presidente também vai em direção diversa à que vem sendo costurada pelo PMDB paranaense. Até o momento, o principal nome do partido para 2010 é o vice-governador Orlando Pessuti, que já trabalha como pré-candidato. Pessuti tem usado a campanha para a escolha de Curitiba para uma das 12 subsedes da Copa do Mundo de 2014 como bandeira para se viabilizar.
Único nome mencionado dentro do próprio PT, Paulo Bernardo também começa a falar como candidato. "Aceito o desafio. Mas eu acho mesmo é que precisamos esperar primeiro pelas alianças nacionais para depois tentar reproduzir o que for decidido no Paraná", diz Bernardo.
Já Osmar Dias apareceria como primeiro da fila porque trabalha pela candidatura desde o fim das eleições de 2006, quando foi derrotado por Requião. O pedetista, no entanto, tem relutado a entrar em uma parceria com o PT. O senador foi convidado pessoalmente por Lula para apoiar Gleisi Hoffmann, esposa de Paulo Bernardo, contra Beto Richa (PSDB) nas eleições de Curitiba no ano passado. Mas ficou do lado dos tucanos. Essa situação, porém, pode mudar com uma candidatura de Richa a governador.
Além de questões políticas, Lula analisou ainda o andamento da crise econômica. Otimista, disse não estar arrependido por ter se referido à crise como uma "marolinha" e contou que trabalha "dia e noite" pela redução dos juros no país, especialmente os cobrados pelos bancos. "Estou seguro de que os bancos podem baixar os juros para um patamar mais acessível, que poderia restabelecer o fluxo de crédito na economia."