Na véspera de participar do 4.° Congresso Nacional do PT, que amanhã sacramentará a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sua sucessão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou que a herdeira do espólio petista, se eleita, deverá ficar dois mandatos no cargo. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Lula negou que tenha escolhido Dilma com planos de voltar ao poder lá na frente, disputando as eleições de 2014.
Perguntado se ele pensa em retornar à Presidência em 2014, Lula respondeu que não. "Não penso. Quem foi eleito presidente tem o direito legítimo de ser candidato à reeleição. Ponto pacífico. Essa é a prioridade número 1" , disse. "Ninguém aceita ser vaca de presépio e muito menos eu iria escolher uma pessoa para ser vaca de presépio", afirmou o presidente. "Todo político que tentou eleger alguém manipulado quebrou a cara.
Uma eventual gestão Dilma, no seu diagnóstico, não será mais à esquerda do que seu governo. No entanto, ele admite que, no governo, ela vai imprimir "o ritmo dela, o estilo dela". Porém, na sua avaliação, diretrizes do programa de governo de Dilma, que o PT aprovará hoje, podem conter um tom mais teórico do que prático. "Não há nenhum crime ou equívoco no fato de um partido ter um programa mais progressista do que o governo", argumentou. "O partido, muitas vezes, defende princípios e coisas que o governo não pode defender."
Questionado se concorda com a ampliação do papel do Estado na economia, proposta na plataforma de Dilma, Lula destacou a importância de investimentos estratégicos por parte do Estado. "Quero criar uma megaempresa de energia no País", contou. "Quero empresa que seja multinacional, que tenha capacidade de assumir empréstimos lá fora, de fazer obras lá fora e fazer aqui dentro. Se a gente não tiver uma empresa que tenha cacife de dizer "se vocês (empresas privadas) não forem, eu vou", a gente fica refém das manipulações das poucas empresas que querem disputar o mercado.
Acordos partidários
Nem mesmo a língua afiada do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) fez Lula desistir de convencer o antigo aliado a não concorrer à Presidência. "É preciso provar que o santo Lula está errado", provocou. Sobre a escolha do vice de Dilma, em que o nome do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), aparece como favorito, Lula afirmou que a decisão é "uma questão a ser tratada entre o PT, a Dilma e o PMDB", mas fez elogios ao peemedebista: "O Michel Temer, neste período todo que temos convivido com ele, que ele resolveu ficar na base e foi eleito presidente da Câmara, tem sido um companheiro inestimável.
O presidente manifestou preocupação com a divisão da base aliada em Estados como Minas Gerais, onde o PT e o PMDB até agora não conseguiram selar uma aliança. "Imaginar que Dilma possa subir em dois palanques é impossível", comentou. "O que vai acontecer é que em alguns Estados ela não vai poder ir." Segundo Lula, Dilma não vai sentir sua falta como cabo eleitoral quando deixar o governo, em março. "Eu estarei espiritualmente com ela", brincou.
Sarney
Ele ainda defendeu o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) suspeito de envolvimento no escândalo dos atos secretos e de agir em benefício de parentes na Casa, entre outros casos denunciados. "O Sarney foi um homem de uma postura muito digna em todo esse episódio. Das acusações que vocês (o jornal) fizeram contra o Sarney, nenhuma se sustenta juridicamente e o tempo vai provar. O exercício da democracia não permite que a verdade seja absoluta para um lado e toda negativa para o outro lado."
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