Em sua primeira fala pública depois da aprovação do impeachment pela Câmara, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira (25) que a Casa é comandada por uma “uma verdadeira quadrilha legislativa implantou a agenda do caos no Brasil”. O petista ainda reconheceu falhas do governo. “Peço que levem aos seus países a mensagem que a sociedade brasileira vai resistir ao golpe do impeachment”, disse o ex-presidente a uma plateia composta por lideranças internacionais da Aliança Progressista, reunindo representantes da África, Ásia, América Latina, Oceania e Europa, entre elas o PRD do México, o Partido Democrático Italiano e o social democrata (SPD) alemão.
O discurso do ex-presidente durou cerca de 50 minutos, pouco menos da metade desse tempo foi um texto lido por Luiz Dulci, ex-ministro e diretor do Instituto Lula, em razão de Lula estar afônico, e a outra parte, um pouco mais longa, foi feita de improviso, onde o petista fez as suas mais duras críticas ao atual cenário onde o impeachment está em discussão no parlamento e no dia em que o Senado Federal define os membros da Comissão Especial que analisará o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). “A população do Brasil sofre com falhas do governo, que precisam ser corrigidas”, disse.
Apesar do mea culpa, o ex-presidente acusou a oposição de trabalhar para “aprofundar o caos” por não aceitar o resultado da eleição de 2014.
Sem citar nominalmente o vice-presidente Michel Temer, Lula disse que a Constituição brasileira está sendo “rasgada hipocritamente pelos que ostentam o título de constitucionalista”, numa referência ao peemedebista ser advogado constitucionalista. E disse que o País vive “uma farsa que envergonha o mundo”, pois Dilma não cometeu crime algum e “os corruptos e oportunistas no Congresso” votaram a favor de seu impeachment. E qualificou a votação na Câmara da seguinte forma: “Houve um pelotão de fuzilamento composto pelo que há de mais repugnante na política, o que ocorre hoje no Brasil é muito grave.”
O petista atacou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, segundo ele, deflagrou o impeachment porque o PT não aceitou ajudá-lo no conselho de ética da Casa. “Gesto claro de vingança onde se juntaram os perdedores das eleições e a marcha golpista se intensificou quando Dilma me chamou para integrar seu ministério, fizeram isso porque não se importam com o País, apenas com seu projeto de poder.”
Enquanto Dulci lia o discurso de Lula, manifestantes, do lado de fora do hotel onde ocorria o evento, tocavam vuvuzelas.
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Críticas ao governo
Apesar do diagnóstico de que o impeachment é golpe, Lula reconheceu que o governo de sua afilhada política enfrenta problemas e críticas dentro do próprio PT. “Não quero que defendam a Dilma, seu governo tem problemas econômicos, conduções equivocadas que o PT discorda, mas se erro de governo e momento ruim da economia for pra levar presidente e primeiro-ministro a impeachment e a voto de desconfiança, ninguém dura dois anos no comando de um país.”
Lula afirmou que está em jogo muito mais do que o mandato de Dilma. “É o voto de milhões de brasileiros, (a oposição) quer interromper um processo histórico, o que está em risco é a melhoria de vida dos trabalhadores e dos mais humildes. No Brasil o processo democrático abriu espaço para os mais humildes, numa revolução pacífica, conquistada pelo voto popular”, disse ele, destacando que em seu governo o PT tirou o país do vergonhoso mapa da fome, libertando as pessoas da pobreza, dobrando o salário mínimo e abrindo as universidades para os excluídos.
Para Lula, “a sociedade brasileira irá reagir com vigor contra este golpe” porque não aceita manipulação nem a criminalização do PT. “O País é maior do que a mentira e a manipulação, o combate à corrupção e à impunidade é essencial à sociedade e ninguém fez mais do que o PT neste combate.” E disse que “os golpistas querem voltar ao poder para barrar as investigações e trazer de volta o reino da impunidade que sempre os preservou”.
Segundo o petista, a gestão de seu partido no comando do país tornou mais justa e equilibrada a situação na América Latina. “Nossa região tornou-se menos vulnerável ao ódio e ao terrorismo.” Ele avaliou que a crise internacional levou a falhas do governo que precisam ser corrigida, mas disse que também é verdade que a oposição “derrotada nas urnas optou pela estratégia golpista para voltar ao poder”. E emendou: “Enquanto o governo se esforçava para equilibrar contas públicas, a oposição trabalhou para nos sabotar”.
Rui Falcão chama Temer de ‘traidor’
Na abertura do seminário, o presidente do PT, Rui Falcão, seguiu a estratégia de denunciar à comunidade internacional o que chama de golpe. No discurso, Falcão chamou o vice-presidente Michel Temer (PMDB) de traidor e criticou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
“A presidenta Dilma não cometeu crime algum. Não pesa contra ela qualquer denúncia de corrupção ou de recebimento de propina. Ao contrário de seu principal algoz, o presidente da Câmara dos Deputados que conduziu a primeira fase do processo, o deputado Eduardo Cunha, réu no Supremo Tribunal Federal pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de bens e evasão de divisas”, atacou.
Falcão chamou Temer de comandante do golpe: “Comanda o golpe o vice-presidente da República, que registra 1% de intenção de voto, caso passasse pelo teste das urnas. E que acumula nas pesquisas uma rejeição próxima de 80%. Traidor de sua colega de chapa, contra a qual conspira abertamente, Temer já anunciou um programa antipopular, de supressão de direitos civis e sociais, de privatizações e de entrega do patrimônio nacional a grupos estrangeiros”, acusou Falcão.
E afirmou: “A escalada golpista só foi possível graças à participação ativa do grande capital, de setores do aparato policial e judicial do Estado, mancomunados com a mídia monopolizada e a oposição de direita”.
Grupos a favor e contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff estão na entrada do hotel Maksoud Plaza, que sedia o seminário.
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