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Nel son Jobim: mudança no plano era defendida pelo ministro da Defesa e militares da reserva que atuaram na repressão política | Wilson Dias/ABr
Nel son Jobim: mudança no plano era defendida pelo ministro da Defesa e militares da reserva que atuaram na repressão política| Foto: Wilson Dias/ABr

Stephanes também vai pedir ao presidente mudanças no projeto

Um dos principais críticos dentro do governo ao decreto que cria o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, vai levar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um levantamento técnico com os principais pontos de preocupação do setor agrícola em relação ao documento. Embora o texto tenha sido endossado pelo secretário executivo José Gerardo Fontelles, o Ministério da Agricul­­­tura quer a revisão não só da parte do programa que trata de questões relacionadas a invasão de terras e reintegração de posse, mas também da diretriz que determina a garantia da aplicação do chamado "princípio da precaução" no uso de transgênicos.

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Depois de se reunir com os ministros da Defesa, Nelson Jobim, e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi , o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a uma solução intermediária para apaziguar os ânimos dos militares em relação ao Programa Nacional de Direitos Humanos, que causa polêmica desde que foi lançado, em dezembro. O presidente resolveu manter o decreto anterior – que inclui iniciativas em praticamente todas as áreas de governo – mas assinou um novo documento, que cria um grupo de trabalho com o objetivo de elaborar um anteprojeto de lei para instituição da Comissão da Verdade, que "examinará a violação dos direitos humanos" durante a ditadura militar.A mudança era defendida por Jobim e pelas entidades que reúnem militares da reserva que atuaram na repressão política durante o regime militar, incluindo duas centenas de citados nas listas de torturadores reveladas por grupos de direitos humanos.

Na tentativa de camuflar a derrota de Paulo Vannuchi, que estava em queda de braço com Jobim, Lula decidiu manter o decreto publicado em dezembro.

O texto do decreto assinado ontem dá ainda mais força à expressão "reconciliação nacional", que não estava no texto original que criava a Comissão da Verdade aprovado em 2008 pelos participantes da Conferência Nacional de Direitos Humanos. Vannuchi já sofria pressão de parentes de mortos políticos e grupos de combate à tortura por ter incluído, no decreto de dezembro, a expressão "reconciliação nacional". O novo decreto foi definido num encontro de Lula com Vannuchi e Jobim no Centro Cultural Banco do Brasil. Vannuchi deixou a reunião sem falar com a imprensa. E Jobim se limitou a dizer que da parte dele estava tudo "resolvido".

A retirada da palavra "repressão política" não traz prejuízos concretos para a instalação da Comissão da Verdade, observam assessores do governo. Mas, na guerra de simbologias, travada desde o começo da distensão política no final dos anos 1970 por militares e vítimas da ditadura, venceram mais uma vez os que negam a repressão política que resultou em torturas e execuções sumárias, avaliam os mesmos assessores.

A Comissão da Verdade será formada por representantes do Arquivo Nacional, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, da Comissão de Mortos e Desaparecidos, e do grupo de trabalho da Defesa que faz buscas na região do Araguaia.

A revogação no varejo do Programa Nacional de Direitos Humanos só está no começo. Com Jobim e Vannuchi, Lula só tratou da parte das torturas cometidas pela repressão militar. O presidente também é pressionado para abrandar outros capítulos, como o que trata da descriminalização do aborto.

O tom definido por Lula para a política de direitos humanos deverá ser bem mais desidratado que o decreto que instituiu o programa. A orientação do presidente é que a mudança de tom seja feita de forma discreta nos projetos de lei previstos no programa que serão enviados ao Congresso.O único ponto que o presidente não cedeu às pressões dos militares é o que prevê a identificação pública dos locais utilizados para torturar participantes da resistência à ditadura. Pelo decreto, os centros de violação dos direitos humanos, em estruturas militares ou civis, devem se tornar públicos.

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