Passado o carnaval, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma formalmente nesta quinta-feira a negociação com os partidos para a composição do Ministério do segundo mandato, que deve ser anunciado na primeira semana de março. A menos que Lula surpreenda, deve ser uma reforma de poucas mudanças, a julgar pelas conversas que o presidente manteve até agora com os principais partidos que integram a coalizão de governo.
Só falta conversar com o PSB e PCdoB, que o presidente recebe, separadamente, nesta quinta-feira, e o PT, na próxima semana, depois da reunião que a Executiva Nacional fará para homologar uma lista de nomes do partido a ser apresentada a Lula.
O presidente disse que aproveitaria o carnaval para fazer "reflexões" sobre a reforma. Lula, na realidade, já dispõe de um bom diagnóstico dos interesses e dos nomes de cada partido. Pela coalizão, o que surge até agora é um Ministério sem maior densidade e expressão política - o nome mais vistoso em discussão é o de Marta Suplicy, cotada para assumir a Educação.
Como a manutenção da área econômica parece definida, restam os ministérios que não entraram na partilha com os aliados e aqueles da cota pessoal do presidente. Mesmo entre esses os nomes que surgiram durante o processo de consultas já não constituem novidade. Para o Ministério da Justiça, depois de um namoro com o ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence, o mais cotado passou a ser o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais).
A Justiça é uma área em que Lula pode surpreender. O presidente também andou à procura de "medalhões" da sociedade civil. Conversou com o empresário Jorge Gerdau, que poderia ser uma solução para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. O deputado Delfim Netto (PMDB-SP) freqüentou listas múltiplas: presidência do BNDES, Ministério da Agricultura ou uma assessoria especial do Palácio do Planalto com poderes para interferir em diversos ministérios. Resta ao presidente agora decidir.
De concreto, as propostas dos partidos no máximo permitem ao presidente compor uma maioria confortável no Congresso. Depende do grau de insatisfação que deixará em cada um deles. A começar pelo maior de todos, o PMDB. O partido conta em ficar com quatro ministérios, sendo dois deles para a representação do Senado e os outros dois, da bancada na Câmara.
O PMDB do Senado foi conservador. Pediu a manutenção de Silas Rondeau (Minas e Energia), Hélio Costa (Comunicações), Romero Jucá (RR), na liderança do governo no Senado, e a indicação de Roseana Sarney (MA) para líder do governo no Congresso. A situação é mais nervosa entre os deputados.
A bancada na Câmara gostaria de ver Geddel Vieira Lima (BA) no Ministério dos Transportes, mas se contenta com sua nomeação para a Integração Nacional. Mais complicada está a indicação para a Saúde. Por Lula e pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, o nome seria o do médico José Gomes Temporão. A bancada, no entanto, tem uma penca de outros nomes de deputados: Darcísio Perondi (RS), Marcelo Castro (PI), Moisés Avelino (TO) e Osmar Terra (RS) e Reinhold Stephanes (PR). Aceita, no entanto, uma composição com Temporão assumindo a secretaria-executiva do Ministério da Saúde.
O PR (ex-PL) já se decidiu pelo retorno do senador Alfredo Nascimento (AM) para os Transportes. Ele deixou a pasta para concorrer às eleições de 2006 para o Senado, pelo Amazonas. No início da semana passada esteve com Lula e teria sido praticamente confirmado no cargo, segundo a bancada do PR.
O nome que reúne mais apoios no PDT é o do presidente da sigla, Carlos Lupi, mas o candidato ao Ministério da Agricultura é o senador Osmar Dias (PR). Lula, em conversa com senadores, já elogiou Dias, mas sua indicação pode causar atrito político com o governador Roberto Requião, seu adversário. A pasta reservada para o PDT ainda não está definida. Depois da audiência com o presidente, o PP passou a dar como favas contadas a permanência de Márcio Fortes em Cidades, um dos ministérios da Esplanada mais cobiçados pelos grandes partidos, inclusive o PT. O PTB, cuja direção não tem interlocução com Lula, deve manter Walfrido Mares Guia no governo.
A conversa com o PSB e o PCdoB é importante para Lula tentar curar feridas abertas na disputa pela presidência da Câmara. Os dois partidos querem manter o que têm (Ciência e Tecnologia, Esportes e Integração Nacional) e somar mais uma pasta. O ex-ministro Ciro Gomes resiste em passar o Ministério da Integração Nacional ao PMDB. Mas a conversa-chave de Lula se dará na próxima semana, quando acertar as reivindicações do PT, a serem feitas com o aval de uma decisão da Executiva Nacional do partido a ser tomada na segunda-feira.