No comando de uma base com 17 partidos e problemas de sobra, a presidente Dilma Rousseff decidiu ficar longe das querelas da montagem das chapas que vão disputar as prefeituras nas eleições do ano que vem. A articulação partidária ficará a cargo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que será uma espécie de "ministro extraordinário para assuntos eleitorais".
O cargo, claro, é fictício. Mas no Palácio do Planalto Lula é tratado assim. Quando alguém fala em articulação partidária e política, a presidente costuma lembrar que a função é de seu antecessor. Desse modo, o ex-presidente acaba sendo visto como o "40.º ministro" de Dilma. Hoje, são 38 ministérios. O das Pequenas e Médias Empresas está sendo criado pelo Congresso. Será o de número 39.
Apesar da agenda interna e das articulações políticas, Lula não desarma a agenda internacional. Na próxima sexta-feira, ele vai para Washington. Em seguida, para Paris e Gdansk (Polônia), onde em 1980 nasceu o Solidariedade, o único sindicato independente do antigo Leste Europeu. Termina seu périplo internacional em Londres. No início de outubro, volta ao país.
No Brasil, conforme informações da assessoria de Lula, ele já esteve reunido com líderes do PT de Belo Horizonte, Salvador, Rio, Goiânia e Recife. A todos, pediu que busquem manter coligações com os partidos da base aliada, evitem disputas internas e procurem candidatos que representem renovação.
O que mais gosta
Daqui até a definição dos candidatos, em junho do ano que vem, Lula deverá percorrer 26 estados para montar chapas que fiquem dentro do perfil da base de apoio de Dilma. Por enquanto, ele tem a intenção de conversar muito só terá uma atuação mais próxima da intervenção quando não for possível resolver os problemas pelas vias amigáveis.
São duas as razões para que Lula se transforme no articulador das eleições municipais e para que Dilma se recolha, afirmam dirigentes do PT e assessores da presidente da República. Primeiro, Lula é um político que tem à sua disposição as 24 horas do dia. E que gosta, e muito, de fazer política. Segundo, Dilma não tem o mesmo traquejo do antecessor para resolver os impasses políticos. Portanto, é natural que ela cuide da administração do país e Lula saia por aí a fazer acordos eleitorais.
Leva-se em conta ainda no Palácio do Planalto que a presidente tem trabalho demais pela frente, como a conclusão das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); do Minha Casa, Minha Vida; dos estádios de futebol e dos aeroportos para a Copa de 2014; e das obras da Olimpíada de 2016. Tem ainda de administrar uma base aliada gigante, ideológica e fisiologicamente diversificada, além de enfrentar as consequências da crise econômica internacional.
Por enquanto, Lula está procurando resolver os problemas internos do PT. Ao mesmo tempo, trabalha para repetir, nas eleições municipais, o que fez na presidencial, quando apadrinhou Dilma, que nunca havia disputado uma eleição, e a transformou em sua sucessora. Sob o argumento de que "é preciso renovar", Lula trabalha para fazer do ministro da Educação, Fernando Haddad, o candidato a prefeito de São Paulo.
A pouco mais de um ano das eleições, Lula não pode se queixar de que não tem o que fazer em seu partido. Em São Paulo, enfrenta a resistência do grupo da ex-prefeita Marta Suplicy, que não aceita a imposição de Haddad. No Recife, o senador Humberto Costa e o ex-prefeito João Paulo fazem carga para tirar da disputa o atual prefeito, João da Costa.
O impasse chegou a tal ponto que João Paulo ameaçou deixar o PT. Lula avisou ao ex-prefeito, que insistia em uma solução rápida: "Se deixar o partido, eu não o apoiarei". João Paulo recuou. Sabe que, sem a ajuda de Lula, não tem como vencer. Há disputas fortes dentro do PT também em Fortaleza. Mas Lula, por enquanto, aguarda o desenrolar da crise.
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