O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu nesta quarta-feira (14), em evento do Sebrae, a criação de um "Ministério da Micro e Pequena Empresa". Segundo ele, um único ministro não consegue cuidar de interesses de grandes empresas e ao mesmo tempo se dedicar ao desenvolvimento de pequenos empreendimentos.
"É incompatível o mesmo ministro que está preocupado com problemas da Gerdau [maior produtora de aço do Brasil] estar preocupado com problemas da companheira de Brasília que veio aqui", disse o presidente, em referência a uma micro-empresária que se beneficiou de recursos do Sebrae.
Lula citou como exemplo os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário. "Por que na agricultura temos o Ministério da Agricultura e um do Desenvolvimento Agrário? Porque é incompatível você ter no mesmo ministério alguém que tem 200 mil hectares e alguém que tem 20 hectares", disse.
O presidente também ressaltou a criação, durante seu governo, do Ministério da Pesca. "Era inconcebível quem é especialista em criar soja e boi, criar peixe. Então decidimos alguém para cuidar especificamente da piscicultura", explicou. No entanto, Lula disse que não caberia a ele a iniciativa de criar um ministério dedicado ao desenvolvimento de pequenas empresas porque já está no último ano do mandato. O presidente discursou durante a 17ª Semana de Capacitação do Sistema Sebrae. Um dos objetivos do evento é estudar formas de atingir a meta de formalizar 1 milhão de empreendedores individuais até o final do ano.
'Poder mais'
O presidente disse ainda que os brasileiros estão otimistas e acreditam que é possível ir além. Durante o discurso ele falou em "poder mais". "Temos de aproveitar esse momento de ouro que o Brasil está vivendo. Todo mundo está acreditando que pode um pouco mais", disse. O tema da pré-campanha de José Serra (PSDB-SP) à Presidência é "O Brasil pode mais".
Segundo Lula, houve uma "revolução" na mentalidade dos brasileiros e do governo. Ele mencionou que quando assumiu a Presidência, em 2003, a quantidade de crédito disponível para investimentos em empresas era R$ 380 milhões e que atualmente o Brasil tem disponível R$ 1,45 trilhão.
"Como poderíamos ser país capitalista se não tinha dinheiro de giro e crédito? Quando que um pequeno empresário podia entrar num banco para tomar crédito?", disse.
No entanto, Lula alertou que os empréstimos não podem ser feitos de forma irresponsável. "Se avacalharem com o crédito veremos o que aconteceu no subprime americano", disse, em referência ao início da crise financeira, quando grandes bancos norte-americanos quebraram. "Um banco não pode emprestar mais do que umas vezes o patrimônio líquido porque senão ele vai estar emprestando o que não tem, e quem empresta o que não tem muitas vezes quebra", alertou.
Distribuição de renda
O presidente defendeu também a distribuição de renda como forma de desenvolvimento econômico. Segundo ele, o país não conseguiu crescer de forma sustentável nos últimos 20, 30 anos, porque a política econômica era orientada apenas para a exportação ao invés da criação de um mercado interno.
"Durante 30 anos fomos a economia que mais cresceu no mundo. O que aconteceu é que não houve distribuição da renda produzida. Pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de renda, muito dinheiro na mão de poucos significa concentração de renda", disse.
Segundo o presidente, as políticas de distribuição de renda durante seu governo garantiram a ampliação do mercado interno, o que, segundo ele, evitou prejuízos maiores ao Brasil durante a crise financeira internacional. "No Brasil, foram criados mais de 900 empregos com carteira assinada no pior momento da crise. Por que isso aconteceu? Porque distribuição gerou mercado interno", disse.
Lula defendeu ainda o comércio com países africanos. Segundo ele, o Brasil ignorava nações subdesenvolvidas na tentativa de incentivar o comércio apenas com países ricos. "Por que não levar empreendedores para a África? Em Angola você vende até o sapato que ta no pé. O Brasil tinha mania de só olhar para Europa. Éramos capazes de chegar a Frankfurt sem olhar para a África", disse.
Ele ressaltou que as transações comerciais do Brasil com a Itália somam US$ 9 bilhões, equanto o comércio com a África chega a US$ 25 bilhões.
O presidente criticou a concentração de investimentos em cultura e educação no centro-sul do país. "Não existe país que pensa em cultura só no centro-sul do país. Não queriam que repartíssemos dinheiro para norte e nordeste. O índice de desenvolvimento do Brasil pegava menor analfabetismo, mortalidade infantil, tudo no Sul e Sudeste e tudo que era maior era Norte e Nordeste. Quantidade de mestres e doutores era maior no Sul e Sudeste e maior no Norte e Nordeste. Em 500 anos o Brasil cresceu apenas nas orlas marítimas".
Ponto G da criatividade O presidente incitou ainda as pequenas empresas a ousarem mais e buscarem mercados alternativos. Segundo Lula, o Sebrae deve correr atrás de empreendedores e "garimpar" oportunidades. "Vocês tem que ser garimpeiros, garimpeiros de oportunidades, pesquisadores de oportunidades", defendeu.
"Acho que a gente poderia fazer revolução nesse país. (...) [É preciso achar] o ponto G da criatividade do ser humano nos negócios", concluiu Lula.