A atendente Paula Francinete Cavalcante, de 27 anos, não chora a morte da filha Bárbara, de 4. Durante dois anos, rejeitou a menina. A vida curta da criança, que nunca sorriu, foi repleta de dor, privações, fome e muita, muita tristeza. O corpinho de Bárbara não agüentou tanta surra, falta da luz do dia, de comida e, principalmente, de carinho. Morreu no último dia 22 de junho, desnutrida, com broncopneumonia e vítima de maus-tratos.
- Ela era agressiva...Eu não tinha paciência - disse Paula.
Presa, a mãe admitiu ter feito com a criança o que nem um animal agüentaria.
- Eu amarrava as mãos dela porque não queria que ela chupasse os dedos...Uma vez a coloquei de castigo ajoelhada no milho...Isso não se faz nem com um animal. Ele não agüentaria.
Na cadeia, Paula é desprezada até pelas detentas juradas de morte. Não consegue dormir nem comer. A culpa é como um fantasma que atormenta. Apanha das presidiárias e admite: "Mereço tudo o que estou passando." Para completar a penitência, não recebe nem sequer uma visita de parentes. Está só e tem medo de morrer.
Desde que estava na barriga da mãe, Bárbara sofria. Paula tomou chá supostamente abortivo, mas disse que não sabia ao certo o efeito. Em setembro de 2002, assim que nasceu, Bárbara foi abandonada na maternidade Amador Aguiar, em Osasco, na Grande São Paulo. Paula fugiu e perdeu a guarda da criança. A menina foi levada a um orfanato onde viveu até 2004. A mãe passou a visitá-la e, em pouco tempo, a Justiça devolveu-lhe o direito de cuidar dela.
O que era para ser a chance de viver no seio da família, tornou-se uma sucessão de dias angustiantes. Bárbara morreu no colo do avô, pai de Paula.
Pena pode chegar a 16 anos de prisão
A atendente Paula Francinete Cavalcante, de 27 anos, cumpre prisão temporária de dez dias na cadeia de Jandira, na Grande São Paulo. Se condenada por maus-tratos, ela pode cumprir pena de cinco a 16 anos de reclusão, segundo o delegado Francisco Pereira Lima.
Paula Francinete foi presa no último domingo, no centro de Osasco, por policiais do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) da cidade.
- Foi uma pessoa da própria comunidade que fez denúncia - diz o supervisor do Garra, delegado Pedro Luiz Pórrio. Depois da morte da filha, em 22 junho, ela não voltou mais à favela corria o risco de ser linchada.