O presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), ficou irritado com as críticas feitas a ele pelo deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou ao cargo de presidente da Casa nesta quinta-feira. Maranhão admitiu a aliados que deu quatro decisões favoráveis a Cunha no Conselho de Ética, o que ajudou a atrasar o andamento do processo, e que, mesmo assim, ele disse, no pronunciamento em que anunciou a renúncia, que a Câmara está “acéfala” e governada por uma “interinidade bizarra”.
“É público e notório que a Casa está acéfala, fruto de uma interinidade bizarra, que não condiz com o que o país espera de um novo tempo após o afastamento da Presidente da República. Somente a minha renúncia poderá por fim a essa instabilidade sem prazo. A Câmara não suportará esperar indefinidamente”, disse o peemedebista, na quinta-feira (7).
Segundo deputados que conversaram com Maranhão nesta sexta-feira, ele ficou incomodado com as palavras usadas por Cunha ao se referir à sua gestão — marcada por idas e vindas e decisões intempestivas, como quando anulou a votação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff que ocorreu na Câmara. O presidente interino também sempre teve dificuldade em presidir as sessões da Casa, e é alvo de fortes críticas de parlamentares desde que assumiu interinamente a presidência, quando Cunha foi afastado do cargo e do mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“Ele disse que fez quatro atos no Conselho de Ética para favorecer o Cunha, aí ele diz que a Câmara está acéfala? Ele ficou irritado com isso, claro”, disse um parlamentar que esteve com Maranhão.
Uma das canetadas para ajudar Cunha foi a troca do relator de seu processo no Conselho, deputado Fausto Pinato (PP-SP). Em uma decisão monocrática, sem consultar os demais integrantes da Mesa Diretora da Câmara, Maranhão tirou Pinato da relatoria, o que fez o processo voltar à estaca zero. Houve novo sorteio e foi escolhido então o deputado Marcos Rogério (DEM-RO).
Maranhão também decidiu, antes da votação do parecer preliminar de Rogério, limitar as investigações contra Cunha no Conselho referentes à suspeita de que ele teria contas bancárias secretas no exterior e que teria mentido, em depoimento à CPI da Petrobras, sobre a existência delas. Antes da decisão, o relatório de Marcos Rogério trazia a acusação de que o peemedebista teria recebido propina de contratos com a Petrobras. Ele retirou esse ponto para conseguir aprovar o relatório, mas havia incluído uma observação explicando que a investigação poderia, durante o andamento do processo, ser ampliada, caso algum fato novo surgisse.
Depois disso, em resposta a uma questão de ordem apresentada pelo deputado Carlos Marun (PMDB-MS), aliado de Cunha, Maranhão decidiu que o relatório final de Rogério teria que se limitar às denúncias mencionadas no parecer preliminar aprovado pelo Conselho de Ética. Com isso, Cunha só poderia ser responsabilizado pela acusação de ter mentido à CPI da Petrobras e por nada além disso.
Em decisão mais recente – revogada depois –, o presidente interino da Câmara fez uma consulta à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) com o objetivo de ajudar Eduardo Cunha na votação de seu processo no plenário da Casa. Na consulta, Maranhão questionava genericamente o rito de processos de quebra de decoro parlamentar, o que, na prática, poderia beneficiar o peemedebista. Ele enviou quatro perguntas à Comissão, sem se referir expressamente ao caso do presidente afastado. Arthur Lira apresentou relatório defendendo que o que deveria ir a voto é o projeto de resolução com a pena, não o relatório do Conselho de Ética, e que poderiam ser apresentadas emendas, desde que não prejudicassem o representado.
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