Se depender da opinião dos deputados estaduais, as principais rodovias do Paraná vão continuar nas mãos da iniciativa privada. O governo estadual tem o apoio da maioria dos 54 deputados da Assembléia Legislativa, mas uma pesquisa realizada pela Gazeta do Povo mostra que mais da metade dos parlamentares concorda, ao menos parcialmente, com o sistema de concessão de estradas.
Na consulta, 19 deputados alguns inclusive do PMDB disseram concordar com o pedágio. E 18 disseram que aprovam parcialmente esse tipo de concessão (ou seja, eles são mais favoráveis do que desfavoráveis ao pedágio, ainda que tenham restrições a ele). Declararam-se parcialmente contra dois deputados (são mais desfavoráveis do que favoráveis, embora admitam que o sistema possa vir a ser usado em alguns casos). E 13 afirmaram ser totalmente contra a concessão de rodovias para a iniciativa privada.
Os que defendem a privatização da administração das estradas alegam que o governo deve ter outras prioridades e não tem dinheiro para gastar com novas obras e a conservação das rodovias. Nesse bloco, por exemplo, estão todos os deputados do partido Democratas, que se posiciona mais à direita no espectro político-ideológico.
Mas há surpresas, como o deputado estadual Pedro Ivo (PT), que é farovável ao pedágio. "O poder público deve ter o papel de controlador, gerenciador. Não precisa necessariamente executar porque nem sempre é o mais eficiente", argumenta. Para o parlamentar, não há incoerência alguma em um petista defender a concessão. "Quem usa paga pelo serviço e não é preciso investir o dinheiro público de quem não usa", avalia.
Luiz Eduardo Cheida e Reinhold Stephanes Júnior são dois parlamentares do PMDB que também disseram ser favoráveis à concessão de rodovias. "O estado não tem dinheiro para manter todas as atividades necessárias", justifica Stephanes. Ele afirma que o partido não tem nenhuma diretriz nacional explícita de qual deve ser o posicionamento dos filiados sobre o pedágio. "A luta do governador é correta até o momento de tentar baixar os valores, mas eu não concordo com a idéia de acabar com o pedágio."
Já para o grande grupo que afirma que é parcialmente a favor, o problema do atual modelo é o preço cobrado. "Se o governo não tem condição para dar bom atendimento, tem de buscar uma parceria", diz o presidente da comissão especial de investigação (CEI) sobre o pedágio, o deputado Fabio Camargo (PTB), que é parcialmente a favor da concessão de rodovias para a iniciativa privada, mas acredita que o preço deveria ser menos da metade do valor atualmente cobrado.
Também estão entre os "quase favoráveis" seis peemedebistas, além de outros integrantes da bancada de apoio ao governo. O líder do governo na Assembléia, Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), embora seja contra a concessão das rodovias, diz saber que existem muitos deputados da bancada que são a favor. "Mas postura do PMDB do Paraná é ser contra", afirma ele que, porém, admitiria o pedágio em alguns casos. "Não sou radicalmente contra, há modelos que podem ser implantados, como o pedágio de manutenção."
O presidente da Associação Brasileiras das Concessionárias de Rodovias (ABCR), João Chiminazzo Neto, diz que o resultado da consulta feita pela Gazeta do Povo é uma surpresa. Para ele, a pesquisa passa um atestado de que os deputados não concordam com a guerra ideológica do governo com o pedágio. "O que não é coerente é o apoio a esses projetos absurdos contra as concessionárias", diz ele, se referindo às propostas de isenção e desconto que tramitam na Assembléia (veja box).
O cientista político e professor da PUCPR Mário Sérgio Lepre vê ainda outra incoerência. A maioria dos parlamentares se auto-declara como político de esquerda. "Sendo assim, deveriam ser contra as concessões para o setor privado."ß Katia Brembatti
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