A obtenção dos dois terços de votos a favor do impeachment na Câmara e no Senado passou a impressão de que o presidente interino Michel Temer (PMDB) teria relação confortável com o Congresso logo de cara. A realidade, porém, está se mostrando mais dura do que a esperada para o peemedebista.
O primeiro racha na base aliada se deu na escolha do líder do governo na Câmara. O preferido de Temer era Rodrigo Maia (DEM-RJ), pertencente ao grupo de partidos que fazia oposição a Dilma Rousseff – PSDB, DEM e PPS. No entanto, sob liderança do presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), as 13 legendas do chamado “centrão” reivindicaram a vaga e conseguiram emplacar André Moura (PSC-SE) no cargo.
A indicação de um parlamentar réu em três ações penais e investigado em mais três inquéritos − um deles na Lava Jato e outro por suposta participação em tentativa de homicídio − logo repercutiu no Senado.
“É o André Moura para o quê? Quais são os compromissos? Vamos dar efetividade em uma Casa às matérias que foram aprovadas na outra? Ou vamos segmentar?”, alfinetou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em resposta, Moura disse que o senador peemedebista “talvez não seja a pessoa mais apropriada para criticar ninguém”.
Atrito
Nos bastidores, os deputados avaliam que é prematuro dizer que o atrito pode interferir na aprovação de projetos importantes que vão começar a chegar ao Congresso – entre eles a nova meta fiscal já na próxima semana. Mas afirmam que cabe a Moura aparar as arestas e sepultar qualquer tipo de conflito, sob pena de ter de ser trocado do cargo, gerando um desgaste ainda maior para Temer.
Em sete dias, governo Temer muda de ideia sete vezes
Leia a matéria completa“Neste começo de mandato, com todas as dificuldades que o Temer terá pela frente, é essencial haver harmonia entre quem fala em nome do governo e quem comanda os poderes. Do contrário, se não houver afinidade, as coisas não vão fluir com a tranquilidade necessária neste momento tão crucial”, afirma Osmar Serraglio (PMDB), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
Na mesma linha, o também peemedebista João Arruda diz que é preciso amenizar os conflitos para evitar transtornos nas votações de matérias importantes para o Executivo.
“O Moura foi escolhido pelo Temer com a responsabilidade de estabelecer uma boa relação entre governo e Parlamento. A missão do Renan é diferente: representar o Senado, em tese, com neutralidade. Por isso, cabe ao Moura garantir essa harmonia e a consequente aprovação dos projetos”, argumenta.
Arruda, entretanto, vê Temer com uma base sólida no Congresso, na medida em que a maioria dos ministros são parlamentares ou nomes ligados a eles. “Em que pese essas nomeações terem gerado certo desgaste na opinião pública, elas tendem a facilitar a aprovação das medidas em plenário, que é a prioridade neste momento.”
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