Brasília (AE) A incessante batalha jurídica travada pelo deputado José Dirceu (PT-SP) para não perder o mandato faz com que sua saga seja comparada no Congresso ao filme "Feitiço do Tempo", no qual o mesmo dia se repete inúmeras vezes para o personagem principal.
Dirceu vive essa maldição, mas espera que o final de sua história, desta vez, seja diferente. Nesta segunda-feira (31), por exemplo, ele assistirá ao deputado Júlio Delgado (PSB-MG) ler novamente o relatório pedindo sua cassação, obrigado pelo Supremo Tribunal Federal. Ângela Guadagnin (PT-SP), sua aliada, mais uma vez gritará "Pela ordem, presidente!" e solicitará "vista" para analisar o texto, na mesma manobra regimental. E, de novo, terá prazo de duas sessões para verificar o parecer. Depois, outra vez, os deputados votarão o relatório. Resta saber se o resultado será o mesmo 13 a 1 de quinta-feira (27).
Na tarefa de arregimentar apoios, Dirceu conta com a ajuda do colega Virgílio Guimarães (PT-MG), que tem bom trânsito no baixo clero da Câmara. Por causa dos atrasos provocados por seus recursos, o ex-ministro só deverá ser julgado pelo plenário no fim de novembro. São necessários 257 votos de um total de 513 deputados para cassar seu mandato.
Votos
A contabilidade do gabinete de Dirceu indica que, desde o início de seu calvário, há 144 dias, ele conquistou 40 votos. Mostra, ainda, que 100 deputados integram a "bancada dos ressentidos" com ele por causa de sua passagem pela Casa Civil, quando deixou vários parlamentares com o "pires na mão". No diagnóstico do exército de Brancaleone comandado por Dirceu, metade desse grupo ainda pode mudar de opinião. "Acho isso muito difícil", avalia o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), da CPI dos Correios. "Dirceu está assumindo sozinho uma responsabilidade que é do governo Lula e, com esse gesto, também vai pagar sozinho", constata. "Três anos depois, o comandante da vitória do presidente Lula foi abandonado. A não ser que dê nomes, será o único culpado."
O ex-guerrilheiro Dirceu sabe disso. Na prática, trabalha agora para reduzir o número de votos que hoje aponta para uma derrota acachapante.