O deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, e os "mensaleiros" foram alguns dos personagens mais lembrados na malhação de Judas, tradição comum entre a comunidade católica. Realizado ao meio-dia nas diversas partes do país, o evento acontece no sábado de Aleluia e lembra a morte de Judas Iscariotes, o traidor de Jesus Cristo.
Cerca de 50 pessoas se reuniram para malhar o Judas na Vila Planalto, bairro de Brasília próximo à Esplanada dos Ministérios. Neste ano, porém, o Judas, que simboliza o traidor de Cristo, foi o pastor. A assessora parlamentar do Senado, Leiliane Rebouças, organizadora do ato, contou que o evento já é tradicional na região - o pai dela, "seu" Francisco, chegou em Brasília em 1968 e instituiu a malhação de Judas no bairro. A manifestação traz um protesto político a cada edição.
"Neste ano não poderíamos falar de outro assunto", disse Leiliane. "Pensamos que ele (Feliciano) não é a pessoa adequada para estar na comissão. Boa parte da minha família é evangélica, mas não concordamos com a intolerância dele em relação à religiosidade. Também achamos absurdas suas posturas homofóbicas e racistas."
O boneco de 1,55 metro, composto de ferro, papel reciclado, e vestido com roupas de brechó - camisa xadrez, calça e gravata verdes - foi amarrado a um poste da Praça Zé Ramalho, na Vila Planalto. Na fisionomia, uma foto impressa do rosto de Feliciano. Os manifestantes bateram com pedaços de madeira nele, como manda a tradição.
Além do boneco, também havia cartazes com os dizeres "Amaldiçoado é o seu preconceito"; "O deputado Marcos Feliciano não representa do eleitores brasileiros; O Brasil é o país da diversidade. Respeite."
Adepta da tradição há 50 anos, Leiliane lembrou que, em 2010, a malhação de Judas tratou do escândalo da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, o esquema de corrupção do governo do Distrito Federal, que tirou do comando do Executivo o então governador, José Roberto Arruda (hoje sem partido). No ano passado, o protesto foi pela má qualidade dos serviços de saúde pública.
São Paulo
Em Franca, no interior paulista, houve malhação de Judas em vários bairros. Na rua General Carneiro, área central da cidade, a atividade ocorre há 58 anos. Tomás Tardivo, de 85 anos, criou a brincadeira no local e desde então muita gente se aglomera para malhar o boneco que depois explode.
No tradicional "testamento", o Judas deixou este ano os seus restos para políticos famosos, como Feliciano, os petistas José Dirceu e José Genoino - condenados no processo do "mensalão" - e até a presidente Dilma Rousseff. "A gente sempre cita os políticos porque são eles que fazem o povo passar muita raiva", explica Tardivo.
Segundo ele, os mensaleiros deixaram o povo indignado e a polêmica envolvendo Feliciano voltou a mexer com a paciência das pessoas. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara tem sido alvo de protestos por ter feito declarações consideradas por muitas pessoas racistas e homofóbicas.
"Não poderíamos deixar passar despercebidos esses figurões", afirmou Tardivo. Ele confeccionou o boneco com roupas e artefatos doados por moradores da cidade, que aplaudiram a destruição do Judas.
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