
Militares brasileiros sequestraram e entregaram aos argentinos um guerrilheiro do grupo Montoneros que havia desembarcado no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Com a ajuda de um médico, ele foi dopado, engessado e colocado em um avião de volta a seu país, onde era procurado. Para a Comissão da Verdade do Rio, a ação fez parte da chamada Operação Condor, cooperação entre as ditaduras de Argentina, Brasil e Chile.
O caso foi contado pelo coronel reformado Paulo Malhães, morto em abril, em depoimento à Comissão da Verdade do Rio. As 248 páginas do depoimento, tomado em duas entrevistas feitas nos dias 18 de fevereiro e 11 de março, foram divulgadas ontem, no Rio.
Na conversa, Malhães afirmou ainda que a Casa de Petrópolis, centro de torturas clandestino que funcionou na cidade serrana entre 1970 e 1974, teria sido usada para transformar militantes presos em agentes infiltrados.
Recusou-se a revelar o que foi feito com o corpo do ex-deputado federal Rubens Paiva, morto possivelmente na madrugada de 22 de janeiro de 1971, após torturas no DOI-Codi da rua Barão de Mesquita, zona norte do Rio,
Ele disse ter relatado o caso ao presidente Emilio Garrastazu Médici, que governou o país entre 1969 e 1974. Em parte deste período, até maio de 1973, a Argentina também viveu sob uma ditadura. Os militares voltariam ao poder em 1976.
Médici
Segundo o relato do coronel, Médici o chamou para cobrar explicações sobre o sequestro: "O presidente me chamou: Malhães, qual foi a cagada que você fez aí, sequestrou um argentino importante?. Eu sequestrei, eu realmente sequestrei. Mandei de volta para a Argentina", disse o militar.
Questionado sobre o destino que o militante teve depois, Malhães foi lacônico: "Não sei."
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