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Recuperado do trauma de ter passado 40 dias na custódia da Polícia Federal (PF), o ex-prefeito Paulo Maluf afirma que vai retomar a vida política e se candidatar novamente em 2006. Segundo ele, agora só há dois caminhos a seguir: disputar o governo do estado ou uma vaga na Câmara dos Deputados. Embora ainda faça mistério sobre a sua escolha, Maluf deixa escapar que seu primeiro projeto de lei como parlamentar será incluir na Constituição a prisão perpétua para crimes hediondos.

Em entrevista exclusiva dada ao "Diário de S. Paulo" na última quarta-feira, na Eucatex, Maluf conta ter contratado para trabalhar em sua empresa, como vendedor, um homem que esteve preso junto com ele e o filho Flávio na PF. O ex-prefeito também se diz vítima de injustiça e reafirma que não tem conta no exterior.

- Isso não é uma perseguição odiosa? - diz.

O ex-prefeito faz ainda uma análise da atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Diário - Como o senhor analisa os 40 dias de prisão?

Paulo Maluf - Todas as pessoas na vida sofrem injustiça. Quando se vê nos jornais o que está acontecendo há seis meses em Brasília e no Brasil e se verifica que tem uma centena de assaltantes em quase todas as empresas de economia mista e em diversas empresas de administração direta, e vê que ninguém foi preso e Paulo Maluf foi preso sem razão e o seu filho por causa de um telefonema, você vê que é uma injustiça que recebo dentro do regime democrático. Mas o Supremo Tribunal Federal reconheceu que a prisão foi ilegal. Agora, estou seguindo minha vida, feliz. Não dá para olhar para o retrovisor. Só olho para frente.

Diário - Como foi a convivência com os presos na custódia da PF?

Maluf - Lá não tinha condenados. É uma custódia, com prisões preventivas e provisórias. Eu diria que foi uma convivência humana. Até por coincidência, um dos custodiados que saiu esteve esta semana com meu filho Flávio e arrumamos para ele, aqui na Eucatex, um emprego de vendedor.

Diário - Ele estava em sua cela?

Maluf - Não.

Diário - Se for absolvido, o senhor pretende processar a União por ter sido preso?

Maluf - Terminado esse processo, meus advogados me aconselharão. Eu não (decidi). Mas se ao final eu decidir processar, eu dou o dinheiro para a Santa Casa.

Diário - O senhor esperava ser preso em algum momento?

Maluf - Quando se entra na vida pública você é aplaudido por alguns e invejado por outros. Não há meio termo. Você não olha em nenhum lugar da cidade onde não há uma obra minha. Tenho muito orgulho da minha parte positiva. As injustiças que fizeram comigo, não tenho ódio, não tenho rancor.

Diário - O senhor será candidato nas eleições de 2006?

Maluf - Sou homem público e entendo vida pública não como um calendário eleitoral eventual. Vida pública é vocação. Então, em 2006, estarei com o meu nome na urna eletrônica.

Diário - Concorrendo a que cargo?

Maluf - Não vou fazer previsões 11 meses antes porque o cenário tem diversas opções. Mas uma coisa é certa. Tenho dois caminhos: candidato a governador ou a deputado federal.

Diário - Há comentários de que o senhor tentaria uma candidatura a deputado federal para conseguir imunidade parlamentar. O que diz disso?

Maluf - Eu disse que adoro a vida pública. Tenho paixão pelas minhas ações. Aos 74 anos, eu sei que tenho minhas deficiências. Posso correr um quilômetro, e não uma maratona. E nunca tive preocupação com imunidade. Sou inocente de tudo o que me acusam.

Diário - O deputado Celso Russomanno tentou articular sua expulsão do PP. O que o senhor diz?

Maluf - Está ultrapassado. Sou presidente nacional do partido. Como é que uma provisória municipal ia tratar desse assunto. Não comento isso...

Diário - Como o senhor avalia o presidente Lula?

Maluf - O Lula perdeu a oportunidade de passar para a história como o melhor presidente da República. Entretanto, a história mostrou que ele é um pregador, que gosta de fazer discurso, mas não é administrador. Ele é um homem de boas intenções, acredito plenamente em sua honestidade pessoal, mas também quero deixar minha crítica. Ele não se preparou para ser bom administrador.

Diário - Se o senhor estivesse no lugar dele o que faria?

Maluf - Demitiria metade.

Diário - Quem manda no governo do presidente Lula?

Maluf - Acho que na primeira fase quem administrava era o Zé Dirceu. Depois ele tirou a parte política do Zé e passou para o Aldo Rebelo e aí a coisa não funcionou direito porque tem certas coisas que não dá para dividir. Ainda não tive nenhum contato com a ministra Dilma Rousseff (da Casa Civil), mas tenho dela a melhor impressão de dama-de-ferro. A Dilma tem uma espécie de perfil da Margareth Thatcher (ex-primeira ministra britânica) e pode ser muito útil ao Lula.

Diário - Se o senhor for eleito governador, a Rota volta às ruas?

Maluf - Sem dúvida. Como deputado federal, meu primeiro projeto será pedir prisão perpétua para crimes hediondos.

Diário - Como vê a contratação de um escritório para investigar suas contas no exterior?

Maluf - Saí da Prefeitura em 1996. Há 9 anos estão investigando, não encontraram nada e continuam investigando. Isso não é uma perseguição odiosa, digna dos regimes hitlerista ou stalinista? Isso é fascismo.

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