Roberto Mangabeira Unger, professor da Universidade de Harvard, aceitou o convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para participar do governo, como ministro da futura Secretaria de Ações de Longo Prazo. O filósofo, que já fui um duro opositor de Lula, disse sim ao presidente nesta sexta, mas os dois ficaram de se falar novamente. Antes de oficializar o convite, o presidente quer conversar com o PRB, partido do qual Mangabeira é vice-presidente. O partido é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus e tem o vice José Alencar como um dos filiados. Com a criação da secretaria, o governo terá 36 ministros.
Mangabeira atacou duramente o governo no início do primeiro mandato, e chegou a pedir o impeachment de Lula, mas aderiu à campanha da reeleição no segundo turno. No auge da crise política, Mangabeira, em artigo na "Folha de S.Paulo", em novembro de 2005, disse que "o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional" (Leia o artigo no blog de Ilimar Franco). No mesmo texto, afirmou que havia provas de crime de responsabilidade suficientes para o impeachment.
Nomeação provoca reação em petistas
O secretário-geral do PT, Joaquim Soriano, ironizou a nomeação:
- Ele se desmoralizou sozinho - disse Joaquim Soriano, em referência ao fato de o professor ter dito que o governo Lula era o mais corrupto da História.
Integrante do diretório nacional do PT, o ex-ministro Humberto Costa colocou panos quentes. Costa afirmou que Mangabeira não é o único agente político que mudou de posição diante do governo Lula e disse considerar que os fatos ligados ao escândalo do mensalão estão superados.
- Tanta gente mudou de opinião ao longo do processo eleitoral. O PDT foi um dos partidos que bateu mais forte e hoje está no governo - afirmou Humberto Costa.
Por causa da nomeação de Mangabeira, o diretório nacional aprovou resolução pela qual os integrantes da comissão que trata de cargos pelo PT devem pedir uma reunião com o presidente Lula para conhecer os métodos que estão sendo usados para fazer as nomeações. A comissão é formada, além de Soriano, pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini, pelo secretário de Finanças, Paulo Ferreira, e pelo secretário de Organização, Romênio Pereira.
NAE foi criado em 2005 para acomodar Gushiken
A futura secretaria será vinculada diretamente ao presidente Lula e com status de ministério. Reunirá o Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), hoje vinculado ao Ministério do Planejamento.
O NAE foi criado em dezembro de 2005 para acomodar o ex-ministro de Comunicação de Governo Luiz Gushiken, que tinha perdido poder com a reforma ministerial de julho daquele ano, depois de denúncias de seu envolvimento com o mensalão. Entre as atribuições do NAE está exatamente "articular a inteligência nacional para o tratamento de temas estratégicos de longo prazo, desenvolvendo atividades de prospecção, análise e simulação". Gushiken deixou o governo em novembro de 2006. Foi substituído pelo coronel Oswaldo Oliva Neto, irmão do senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Criado há 40 anos, o Ipea tem atuação independente e técnica, e produz estudos sociais e econômicos importantes, alguns deles com críticas às políticas públicas do governo.
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