A Polícia Militar do Paraná quebrou um recorde triste nesta quarta-feira. O número de feridos durante as manifestações no Centro Cívico, 213, supera o de qualquer manifestação no país nos últimos dois anos – incluindo os protestos de junho de 2013. Segundo a Artigo 19, ONG internacional dedicada à proteção da liberdade de expressão, mesmo durante a onda de protestos daquele ano, o número de feridos pela polícia não atingiu a marca de 150.
Segundo Thiago Firbida, que compõe a equipe de Liberdade de Expressão da ONG, o número chama mais a atenção quando comparamos a natureza e a dimensão dos protestos. Em 2013, a manifestação com o maior número de pessoas feridas ocorreu em Brasília, no dia 20 de junho -- 137. Foi uma manifestação com mais de 30 mil pessoas. Houve incidentes reais de vandalismo e violência entre as pessoas que participavam do protesto, como a depredação do Palácio do Itamaraty.
“O que marca a ação da polícia [do Paraná] neste caso é a desproporcionalidade, que não tem relação apenas com o número de policiais e de manifestantes, mas com o contexto. Não havia qualquer tipo de generalização da violência antes da ação da PM”, afirma Firbida. “Não havia justifica plausível para uma intervenção da polícia, ainda mais nessa proporção.”
Já o protesto do Movimento Passe Livre (MPL) em São Paulo, em 13 de junho, teve 105 feridos. Estima-se que cerca de 20 mil pessoas estivessem presentes, na ocasião. A brutalidade policial na repressão à manifestação chocou o país na ocasião, e levou milhares de pessoas às ruas nos dias subsequentes.
A Artigo 19 apresentou um relatório sobre as violações aos direitos de liberdade de expressão no ano de 2013 – o relatório de 2014 está sendo elaborado atualmente, segundo representantes da instituição. Segundo os dados da ONG, foram 696 manifestações no país naquele ano, com um total de 837 pessoas feridas e 2.608 cidadãos detidos.
Passado e presente
Apesar do número altíssimo de feridos, não dá para dizer que esse tipo de reação, por parte da PM, é inédito. Para Firbida, mesmo depois da redemocratização, a PM manteve um protocolo herdado dos tempos da ditadura. “Em tese, a gente deveria ter superado isso, mas não é o que acontece. As PMs ainda têm uma estrutura que vem da ditadura, e agem como se estivessem em um contexto não democrático”, afirma. “A polícia não tem protocolos para lidar com a oposição e com a divergência em uma democracia.”
Isso não se reflete, somente, na repressão a protestos, mas também no dia a dia da corporação. “A diferença é que, quando é só na periferia, existe uma certa inviabilização da questão. Agora, a partir do momento em que amplos setores sociais saem às ruas e são reprimidos, essa questão fica mais forte no debate público”, diz Firbida.
Hugo Motta defende que emendas recuperam autonomia do Parlamento contra “toma lá, dá cá” do governo
Hugo Motta confirma favoritismo e é eleito presidente da Câmara dos Deputados
Em recado ao STF, Alcolumbre sinaliza embate sobre as emendas parlamentares
Cumprir meta fiscal não basta para baixar os juros
Deixe sua opinião