Em protesto contra a candidatura de Renan Calheiros (PMDB-AL) à Presidência do Senado, manifestantes da ONG Rio de Paz colocaram hoje 81 vassouras e baldes no gramado em frente ao Congresso Nacional. O protesto defende uma "faxina" no parlamento para evitar que o peemedebista seja eleito na próxima sexta-feira.
À tarde, os integrantes da ONG tentaram, sem sucesso, lavar a rampa do Congresso em continuidade às manifestações contra a escolha de Renan. Mais cedo, representantes do grupo foram barrados ao tentar entrar na Casa para negociar com o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) a liberação do protesto. "A ideia é terminar o ato com a lavagem da rampa. A Polícia do Senado disse que só teríamos acesso à rampa se um senador autorizar. Fomos barrados mesmo depois que o senador disse que nos ajudaria. Somos conhecidos como uma ONG pacífica, nos barrar é um tiro no pé", disse o fundador da Rio de Paz, Antônio Carlos Costa.
A ONG reúne assinaturas numa petição online em defesa de um presidente "ficha-limpa" para o Congresso - que tem a adesão de 79 mil pessoas. No documento, o grupo afirma que o retorno de Renan à Presidência do Senado é um "tapa na cara da sociedade brasileira e mais um passo das lideranças políticas que hoje controlam o Congresso Nacional para a desmoralização do parlamento".
A entidade afirma que as denúncias contra Renan, agravadas com denúncia do procurador-geral da República contra o senador encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última sexta-feira, torna "inaceitável" que o peemedebista retorne ao cargo.
"São informações inaceitáveis e repugnantes contra o Renan. Não somos um movimento anti-corrupção, mas a corrupção ajuda a matar. Por isso, temos que nos mobilizar", afirmou Costa.
Renan é o favorito na corrida pelo comando do Senado, com apoio do Palácio do Planalto. Em 2007, o senador teve que renunciar ao cargo de presidente da Casa em meio a uma série de acusações - entre elas, a de usar recursos de uma empreiteira para pagar pensão à sua filha com a jornalista Mônica Veloso.
A renúncia fez parte de acordo firmado com os parlamentares para Renan preservar seu mandato. O peemedebista foi absolvido duas vezes pelo plenário da Casa nos processos de cassação. Desde o ano passado, negocia seu retorno à Presidência, com o aval da cúpula do PMDB.
Funkeira rouba cena e proibição frustra manifestantes
Quase ao mesmo tempo em que cerca de 20 manifestantes eram impedidos pela segurança de "lavar e faxinar" a rampa da sede do Poder Legislativo, a funkeira MC Bandida gravava um videoclipe só de calcinha e sutiã, também nas imediações do Congresso.
Sem acesso à rampa do Congresso para fazer a limpeza e exigir um presidente do Senado ficha limpa, os manifestantes do ato contra Renan Calheiros recuaram um pouco e lavaram simbolicamente um dos espelhos d'água que ficam entre o prédio do Legislativo e o gramado. O grupo desenhou uma cruz no gramado, com baldes e vassouras.
Um segurança informou aos manifestantes que eles não poderiam "faxinar" a rampa porque, por ela ser uma área comum da Câmara e do Senado, os presidentes das duas Casas teriam de autorizar a lavagem. Além da Polícia Legislativa, 80 policiais militares foram destacados para impedir que os manifestantes fossem até a rampa.
O gesto, segundo o coordenador do movimento, representa a necessidade do Senado "limpar" sua imagem. Já a funkeira MC Bandida parecia um pouco nervosa enquanto uma equipe gravava o videoclipe. Mas ninguém apareceu para impedi-la de fazer sua coreografia.