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 | Jana Pessôa/ Diário de Cuiabá
| Foto: Jana Pessôa/ Diário de Cuiabá

Aliança PDT-PT-PMDB

Persiste impasse em torno do pedetista

Katia Brembatti, com agências

As conversas partidárias realizadas até a tarde de ontem não foram capazes de resolver o impasse sobre as alianças e para definir a candidatura de Osmar Dias (PDT) ao governo do Paraná. A indicação do senador Alvaro Dias (PSDB) para ser vice na chapa presidencial do tucano José Serra tratou de complicar ainda mais as negociações. Os partidos precisam definir o que vão fazer até a próxima quarta-feira quando acaba o prazo legal para as convenções e para a definição de candidatos e coligações.

Às pressas, uma reunião foi marcada para a manhã do sábado com lideranças do PDT, PMDB e PT para tratar da candidatura de Osmar. Até o fechamento desta edição, a reunião ainda não havia terminado e nenhuma decisão tinha sido anunciada.

No centro da conversa estão Osmar e o governador Orlando Pessuti (PMDB) – ambos querem ser candidatos ao governo, mas o peemedebista aceita ceder a vaga ao pedetista.

O anúncio da candidatura de Osmar ao Palácio Iguaçu, em uma aliança com o PMDB e o PT, estava marcada para a quinta-feira. Mas divergências internas entre peemedebistas e petistas adiaram a formalização da aliança.

Nesse meio-tempo, o PSDB decidiu lançar Alvaro como vice de Serra – o que novamente levou Osmar a ter dúvidas sobre seu futuro. O pedetista alega que ficaria em uma situação familiar delicada, pois, caso se lance ao governo em uma chapa junto com o PT, dará palanque à candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff.

Ou seja, Osmar faria campanha contra o próprio irmão, que seria vice de Serra.

Uma das motivações da escolha de Alvaro para vice de Serra seria justamente impedir que Osmar concorra ao governo do Paraná em uma aliança com PMDB e PT, retirando o palanque forte para a presidenciável petista Dilma Rousseff no estado.

  • Osmar: decisões no fim de semana

Alvaro Dias (PSDB-PR), senador indicado para ser vice de José Serra.

O projeto de recolocar o PSDB no poder e de posicionar o Paraná pela primeira vez na história como protagonista da política nacional são os motivos do senador tucano Alvaro Dias para encarar os protestos do DEM nacional e as mudanças no quadro estadual provocadas pela escolha dele para a vaga de vice-presidente na chapa do tucano José Serra.

O paranaense não acredita em um veto dos democratas à sua indicação, mas prevê uma negociação complexa para ser oficializado como vice. No plano local, ele explica que a possível desistência do irmão Osmar da disputa para governador é uma questão de prioridade para o futuro do Paraná. "Vai pesar para o Osmar o fato de que é a primeira oportunidade que o Paraná tem no âmbito nacional de ocupar um lugar de destaque. Ele certamente terá constrangimento em impedir que isso ocorra", disse Alvaro, em entrevista exclusiva concedida à Gazeta do Povo em Cuiabá (MT). O senador esteve na cidade ontem para participar da convenção do PSDB matogrossense.

Segundo ele, a indicação é uma oportunidade de "ouro" para o Paraná. "Imagine um vice-presidente do estado podendo trabalhar a favor das causas do Paraná ao lado do presidente. Imagine como todos os paranaenses se beneficiariam."

O que falta para o anúncio oficial do senhor como candidato a vice-presidente?

Houve uma definição do PSDB, em consequência de uma avaliação do quadro eleitoral. Depois aconteceu uma consulta aos partidos, com a concordância imediata do PPS e do PTB, que compõem a aliança junto com os democratas. E as conversas continuam com o DEM. Há resistências de alguns setores ainda e, por outro lado, também há apoio bastante expressivo do partido. Eu acho que é uma reivindicação legítima [a vaga de vice]. Histo­­ricamente, eles sempre [os democratas] ocuparam essa posição, duas vezes com o [ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso e uma vez com o [cndidato tucano à Presidência em 2006] Geraldo Alckmin. Portanto, nada mais justo que reivindicar. Eu respeito a postulação, mas tenho certeza de que vai prevalecer o projeto maior que é a eleição do presidente da República. Não creio que os democratas coloquem em primeiro plano um interesse circunstancial. O problema do DEM é com o senhor ou com a indicação de um nome do PSDB?

Não há restrições à indicação, mas há a defesa de uma tese, de que o vice deveria ser do DEM. Essa é a postulação. O próprio Rodrigo Maia [presidente nacional do DEM] declarou que não há nada contra o nome indicado, mas que o partido reivindica a posição.

O DEM tem poder de veto?

Não há essa questão do veto. Há o poder do convencimento. Vão tentar convencer e certamente não vão desistir facilmente, mas eu imagino que vai prevalecer a responsabilidade pública de defender um projeto de nação liderado pelo Serra.

Como foi o processo de escolha do senhor?

O PSDB fez uma avaliação de todas as possibilidades e concluiu indicando meu nome. No arco da aliança, houve uma avaliação de todos os candidatos possíveis. Quando me chamaram, já chegaram dizendo: "Você está sendo convocado". Foi colocado nesses termos. Ontem [sexta-feira], quando se divulgou que eu teria dito que, se o DEM postulasse eu abriria mão, o senador Arthur Virgílio [líder do PSDB no Senado] me ligou do Amazonas e me deu uma bronca, dizendo que eu não tenho o direito de dizer isso. Ele falou: "não é você que está em jogo, é uma convocação. Você não está autorizado a proceder dessa forma".

No que o senhor pode ajudar nessa chapa, como pode atrair mais votos?

Tenho constrangimento de falar nisso, porque seria uma forma de elogio em boca própria. Quem fez a avaliação é que tem condições de dizer por que houve a escolha. Meu papel na campanha será definido pelo Serra. Eu vou conversar com ele para saber qual tipo de função ele quer que eu desenvolva, se o meu nome for realmente homologado. Na verdade, estamos falando sempre no condicional, porque ainda falta essa homologação. Se isso ocorrer, minha disposição maior talvez seja abrir uma frente de campanha pelo país. Mas cabe ao Serra definir a minha missão.

O senhor hoje ajuda mais como um nome regional ou nacional?

Eu sou recebido em todo Brasil de uma forma calorosa. Eu creio que esse tempo todo de atuação, de presença na mídia nacional, me abriu portas. Eu me sinto à vontade em qualquer local do país. É sempre como se eu estivesse no Paraná.

Como o senhor avalia o momento da candidatura Serra? Atrapalhou toda essa demora para escolher o vice?

Não atrapalhou. E ainda é muito cedo, a campanha não começou. Os números são volúveis, não há cristalização da intenção de voto. Hoje não há como afirmar quem é favorito. Até pouco tempo o favoritismo destacado era do Serra. Pelo talento dele, pela competência política reconhecida e pelo patrimônio de experiência administrativa que adquiriu, o Serra tem amplas condições de convencer o eleitorado de que é a melhor opção. É nisso que nós apostamos, na qualidade do nosso candidato no confronto com a adversária [Dilma Rousseff, do PT].

As pessoas vão prestar mais atenção nos vices durante esta campanha?

Depende muito da atuação dos vices. Acho que é uma questão de posicionamento de cada um. Vou fazer a minha parte.

Michel Temer (PMDB) disse que pretende ser um candidato a vice discreto na chapa da ex-ministra Dilma Rousseff (PT). Esse não é exatamente o perfil do senhor. Como será o seu comportamento durante a campanha?

De absoluta lealdade ao candidato e de fidelidade integral ao projeto. Quem dá o tom da campanha é o candidato. Obvia­­mente, se formos vitoriosos, também será ele quem definirá as minhas funções no governo.

No que pesou o quadro paranaense na sua escolha?

O Paraná tem 7,5 milhões de eleitores. Certamente pesou a análise de que um estado que nunca teve a oportunidade de ter um candidato a vice-presidente responderá com votos. É uma chance de ouro que o estado tem. Imagine um vice-presidente do estado podendo trabalhar a favor das causas do Paraná ao lado do presidente. Imagine como todos os paranaenses se beneficiariam... Essa resposta tem um peso fundamental. O Paraná pode ser decisivo nesta eleição. E, sendo decisivo, certamente ficará com um crédito enorme junto ao presidente da República. Eu não participei da avaliação feita para a escolha do vice, mas certamente isso foi considerado. Um estado com tantos eleitores pode sim ser decisivo em uma disputa tão equilibrada quanto a que teremos pela frente.

Quanto foi decisivo na escolha do senhor o fato de que isso poderia afastar a candidatura de Osmar Dias para governador em uma aliança com PT e PMDB que montaria candidatura de Dilma?

Desde fevereiro, o senador Sérgio Guerra [presidente nacional do PSDB] vinha me pedindo para que eu ficasse em um silêncio obsequioso porque certamente eu seria o vice-presidente. Na opinião dele, o meu nome era o mais talhado para a função. Mais recentemente, há uns 15 dias, ele voltou a afirmar que o meu nome era o mais adequado. É evidente que o Osmar poderia ser candidato ou não. Agora, eu e o Osmar nunca cogitamos sairmos um em lado oposto do outro em uma eleição. Nunca imaginamos estabelecer um confronto. Não sei se isso pesou na avaliação do PSDB, mas obviamente foi considerado. Porque eles sabem que há muito tempo nós dois estamos afirmando que não estaremos em lados opostos. O Osmar sempre foi muito incisivo em relação a isso, muito afirmativo. Ele sempre diz que prefere deixar a política do que estabelecer um confronto. E a recíproca é verdadeira.

Mas como vai funcionar nesse caso? Ele abre mão da candidatura para favorecer o senhor?

Eu imagino que, quando essa matéria for publicada, certamente isso já estará definido. Mas a tendência é que ele faça uma opção de apoio ao projeto maior. Se você se lembra, desde o primeiro momento, quando havia uma disputa interna no PSDB, o meu discurso era a favor do projeto maior. Eu disse que eu era um colaborador do projeto nacional. O mais importante para o Paraná e para o Brasil é um governo competente, reformista e, por isso, eu acredito no Serra. Sempre coloquei nesses termos a minha participação no jogo eleitoral do estado. E continuo assim. Vai pesar para o Osmar o fato de que é a primeira oportunidade que o Paraná tem no âmbito nacional de ocupar um lugar de destaque. O Osmar certamente terá constrangimento em impedir que isso ocorra. Quando nós conversamos sobre um abrir mão para o outro, ele me disse que não tinha como me pedir para eu abrir mão para ele. Na análise dessa situação, obviamente deve prevalecer o interesse do estado, ainda mais com essa ligação com o projeto de nação.

É uma questão de hierarquia do cargo a ser disputado?

O que é prioritário para o Paraná hoje? Uma candidatura a governador, com todos os riscos de qualquer candidatura, ou uma presença nacional que possa ser importante a médio e longo prazo, em matéria concreta de benefícios para o estado? Isso é o que pesa na nossa avaliação.

Um dos pontos que vêm sendo mais questionados na sua escolha é o fato de que, em 2002, o senhor, que estava filiado ao PDT, fez campanha no segundo turno para Lula contra Serra na disputa presidencial. No que isso pode atrapalhar?

Na verdade eu não fiz campanha a favor do Lula, mas ele fez contra mim [em 2002, Alvaro foi candidato a governador pelo PDT e perdeu para o peemedebista Roberto Requião no segundo turno]. É necessário deixar isso bem claro. Em 2002, nós apoiamos o Ciro Gomes [então no PPS] no primeiro turno e no segundo apoiamos o Lula. Ocorre que eu não fiz campanha para ele e o Lula fez campanha para o Requião. Obviamente na minha campanha tinha o nome do Lula porque era uma coisa partidária. Agora, eu não apoiei o governo dele um dia sequer. Até porque a decepção ocorreu já durante a campanha. Eu não apostava que esse governo pudesse ter valores éticos. E os valores da ética, da moral, pesam muito na minha avaliação política. Eu jamais trabalharia sem compromisso com a ética. Isso ficou evidente no final da campanha. E, por isso, busquei um caminho de volta ao PSDB, do qual não me arrependo.

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