O presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA), está hesitante em relação a deixar o cargo. Em conversas com outros deputados, ele afirmou que não abriria mão da presidência, pediu mais tempo para refletir e também tentou apelar ao PMDB, pedindo por uma chance para acertar. Logo após assumir a cadeira, Maranhão acolheu um pedido de Advocacia-Geral da União e anulou a sessão em que os deputados aprovaram a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Pressionado, voltou atrás horas mais tarde.
O líder da bancada do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), diz que Maranhão lhe pediu mais tempo para refletir sobre a possibilidade de renunciar à função. Ribeiro lembrou a Maranhão que o tempo dele se esgotará na quinta-feira (12), prazo dado pelos líderes partidários para ele tomar uma decisão, caso contrário, será mantida a representação por quebra de decoro parlamentar protocolada contra ele pelo DEM e PSD. “Queremos que ele resolva hoje. O fato é que o PP não o apoia e quer sua substituição”, disse o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).
A pressa do PP se deve à possibilidade de o partido perder a indicação ao posto se Maranhão demorar para renunciar. Caso se encontre uma saída alternativa para a destituição de Maranhão, outros partidos do bloco podem se animar e emplacar um nome alternativo à indicação do PP. “Tem de ter renúncia para a vaga continuar com a gente”, explicou Goergen. Entre os cotados da bancada para substituir Maranhão estão Esperidião Amin (SC), Júlio Lopes (RJ) e Ricardo Izar (SP). “Esperidião seria um grande nome. Precisamos ter um nome de peso”, desconversou Izar.
Ribeiro demonstrou preocupação com a indefinição de Maranhão, já que caso o afastamento da presidente Dilma Rousseff seja confirmado pelo Senado, há expectativa de que o novo governo apresente imediatamente medidas para serem votadas na Casa. Ribeiro ponderou que a Câmara deve ter nas próximas semanas debates políticos “pesados” e que a situação do presidente interino precisa ser resolvida o mais rápido possível. “O governo não poderá avançar sem que a Câmara esteja funcionando bem. O governo precisará de apoio na Casa”, comentou.
O líder fez questão de contextualizar Maranhão sobre sua situação e da indisposição da maior parte da Casa em mantê-lo no cargo. O presidente interino disse que vai procurar os líderes partidários pedindo apoio, o que já tem feito ao longo da manhã. Desacostumado à interação com os líderes, Maranhão pediu que um funcionário do gabinete da presidência imprimisse um documento com as fotos dos líderes para se certificar com quem precisa falar.
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Ribeiro insistiu que a Câmara precisa de condições mínimas para funcionar em um momento de mudança de governo. Ribeiro destacou que, se Maranhão não se decidir, sua posição será interpretada – principalmente pela oposição – como permanência, o que acarretará em consequências no Conselho de Ética. “Continuamos por enquanto no impasse. Esperamos que seja resolvido rápido”, declarou.
De jeito nenhum
Já em conversa com o primeiro-secretário da Mesa Diretora, Beto Mansur (PRB-SP), Maranhão (PP-MA), mostrou resistência em deixar o cargo. Segundo Mansur, o pepista avisou que não vai renunciar à função “de jeito nenhum”, voltou a pedir desculpas pelo erro que cometeu ao tentar anular a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Casa e pediu ajuda para “tocar” o País.
De acordo com relato de Mansur, o presidente interino disse estar disposto a dar encaminhamento às pautas do eventual governo Michel Temer. Para o primeiro-secretário, Maranhão pode até ser expulso do PP – como articulam alguns colegas de bancada –, mas poderia seguir no cargo, o que levaria eventualmente a uma judicialização do caso.
Nos bastidores, especula-se que ele poderia aceitar um cargo no governo maranhense de Flavio Dino (PCdoB) e assim teria uma “saída honrosa” para o impasse. A oposição faz questão de sua renúncia, pois entende que se houver uma licença para ocupar um cargo em seu Estado, ele poderia futuramente voltar à presidência da Casa.
Para forçar a saída de Maranhão, a oposição tem em mãos uma representação já protocolada na Mesa Diretora que pode ser encaminhada ao Conselho de Ética. Maranhão disse a Mansur que não está preocupado com um eventual processo por quebra de decoro parlamentar, que a representação “é uma besteira”. Membros da Mesa Diretora articulam uma reunião informal para discutir a situação de Maranhão nesta quarta.
Oportunidade para acertar
Ameaçado pelas mais variadas correntes partidárias, Maranhão se reuniu com o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), para pedir uma nova oportunidade para acertar no comando da Casa. De acordo com o líder peemedebista, Maranhão o chamou para reconhecer que errou ao assinar o pedido de nulidade, reafirmar que não pretende deixar o cargo e pedir uma nova oportunidade para acertar no comando da Câmara.
O apelo de Maranhão ocorre momento em que vários partidos exigem que ele renuncie ao posto. “A reunião foi um gesto. Ele pediu pediu desculpas e reiterou que quer ficar na presidência. Eu disse que ele cometeu um erro e, por isso, estava nessa situação. Foi uma conversa inconclusiva. Agora, os líderes partidários precisam decidir qual é o melhor caminho”, afirmou Picciani.
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