Em depoimento ao ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no processo que pede a cassação da chapa Dilma/Temer nas eleições de 2014, o executivo Marcelo Odebrecht afirmou que inventou a campanha de reeleição de Dilma Rousseff (PT) naquele ano. Partes do depoimento de Odebrecht ao TSE foram obtidas pelo blog O Antagonista e divulgadas nesta quinta-feira (23).
Os documentos não estão completos e citam apenas trechos da oitiva de Odebrecht. “A campanha presidencial de 2014, ela foi inventada primeiro por mim, tá? E... eu não me envolvi na maior parte das demais campanhas, mas a... a eleição presidencial foi... eu conheço ela... os valores foram definidos por mim”, disse o executivo ao ministro relator do processo de cassação.
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Segundo os trechos divulgados pelo blog, Marcelo Odebrecht teria afirmado que foram disponibilizados R$ 300 milhões aos ex-ministros Guido Mantega e Antônio Palocci entre 2008 e 2014. O valor teria saído de uma “conta corrente” da empreiteira que era exclusiva para atender a Presidência da República.
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Leia a matéria completaSegundo o executivo, Mantega teria dito que a então presidente Dilma Rousseff teria pedido para que os recursos repassados pela Odebrecht não passassem pelo PT e fossem direto para a campanha presidencial. “Marcelo, a orientação dela [Dilma] é que todos os recursos de vocês vão para a campanha dela. Você não vai mais doar para o PT, você só vai doar para a campanha dela, basicamente paras as necessidades da campanha dela: João Santana, Edinho Silva ou esses partidos da coligação”, teria sido a orientação de Mantega em 2014.
O executivo também teria dito que o dinheiro para comprar o apoio dos partidos que se aliaram a Dilma Rousseff saiu inteiramente da conta corrente do PT no departamento de propinas da Odebrecht.
Paulo Bernardo
Nos documentos vazados pelo Antagonista há uma menção de Marcelo Odebrecht ao ex-ministro paranaense Paulo Bernardo, marido da senadora Gleisi Hoffmann (PT). Segundo o executivo, Bernardo pediu R$ 64 milhões para a aprovação de uma linha de crédito.
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“O Paulo Bernardo solicitou R$ 64 milhões. Na verdade, eram US$ 40 milhões, que depois eu... eu baixei para trinta e seis, que, transformando em reais, foi R$ 64 milhões”, disse Odebrecht ao ministro.
Documentos
Os documentos obtidos pelo Antagonista fazem parte do processo em tramitação no TSE e ainda estão em segredo de Justiça. O ministro Herman Benjamin é o relator do processo e pode pedir a cassação da chapa Dilma/Temer na eleição de 2014, provocando a queda do presidente Michel Temer. Ainda não há previsão de quando o processo deve chegar a uma conclusão. A expectativa dos advogados é que Benjamin divulgue seu relatório ainda no primeiro semestre deste ano.
Marcelo Odebrecht prestou depoimento a pedido do ministro depois que a colaboração premiada dos 77 executivos da Odebrecht foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no início do ano. Odebrecht não foi o único a prestar depoimento no processo do TSE. O procurador-geral da República Rodrigo Janot elencou uma série de executivos que poderiam auxiliar nas investigações de irregularidades na campanha presidencial de 2014.
Outro lado
A ex-presidente Dilma Rousseff divulgou uma nota para rebater as informações vazadas do depoimento de Marcelo Odebrecht. Veja a íntegra:
A respeito de informações publicadas nesta quinta-feira, 23, sobre um supostas declarações, avisos e afirmações atribuídas ao empresário Marcelo Odebrecht, a Assessoria de Imprensa de Dilma Rousseff esclarece:
1. A ex-presidenta Dilma Rousseff não tem e nunca teve qualquer relação próxima com o empresário Marcelo Odebrecht, mesmo nos tempos em que ela ocupou a Casa Civil no governo Lula.
2. É preciso deixar claro: Dilma Rousseff sempre manteve uma relação distante do empresário, de quem tinha desconfiança desde o episódio da licitação da Usina de Santo Antônio.
3. Dilma Rousseff jamais pediu recursos para campanha ao empresário em encontros em palácios governamentais, ou mesmo solicitou dinheiro para o Partido dos Trabalhadores.
4. O senhor Marcelo Odebrecht precisa incluir provas e documentos das acusações que levanta contra a ex-presidenta da República, como a defesa de Dilma solicitou – e teve negado os pedidos – à Justiça Eleitoral. Não basta acusar de maneira leviana.
5. É no mínimo estranho que, mais uma vez, delações sejam vazadas seletivamente, de maneira torpe, suspeita e inusual, justamente no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral, órgão responsável pelo processo que analisa a cassação da chapa Dilma-Temer, está prestes a examinar o relatório do ministro Herman Benjamin.
6. Espera-se que autoridades judiciárias, incluindo o presidente do TSE, Gilmar Mendes, e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, venham a público cobrar a responsabilidade sobre o vazamento de um processo que corre em segredo de Justiça.
7. Apesar das levianas acusações, suspeitas infundadas e do clima de perseguição, criado pela irresponsável oposição golpista desde novembro de 2014 – e alimentada incessantemente por parcela da imprensa – Dilma Rousseff não foge da luta. Vai até o fim enfrentando as acusações para provar o que tem reiterado desde antes do fraudulento processo de impeachment: sua vida pública é limpa e honrada.
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