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Uma marchinha de carnaval que ironiza os lanches pagos pelo presidente da Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte, Léo Burguês (PSDB), virou motivo de polêmica na capital mineira e pode acabar na Justiça. Advogados do político pediram ao compositor da canção, Flávio Henrique, que a retirasse de seu site, para que o músico não fosse processado por dano moral.

A canção foi composta para o Concurso de Marchinhas Mestre Jonas, que escolherá o hit da Banda Mole, tradicional bloco carnavalesco da cidade que sai pela região central da cidade em duas semanas.

O tema da música polêmica foi o gasto do vereador com alimentação usando os R$ 15 mil mensais da verba indenizatória da Câmara Municipal. Entre agosto de 2009 e outubro de 2011, Burguês gastou R$ 61,8 mil em lanches e refeições no Berenice Guimarães Buffet, que pertence à sua madrasta. Ao denunciar o abuso - que se tornou alvo de ação do Ministério Público em Minas - o jornal O TEMPO fez uma estimativa do número de coxinhas que daria para comprar todos os meses: cerca de 3 mil.

"Milhares de reais por mês/pro lanchinho do burguês/ O nosso dinheiro ele gasta / na cozinha da madrasta", diz a canção, que ainda provoca com versos de duplo sentido: "não sei se é ladrão/pervertido ou pederasta/tem gente metendo a mão/na coxinha da madrasta".

Para evitar uma briga judicial, o compositor mineiro atendeu ao pedido do seus advogados do vereador. Mas bastou a notícia do pedido de retirada do site se espalhar pelas redes sociais para a versão aparecer em outras páginas. E também surgirem novas marchinhas com o tema, compostas por outros artistas. "Tudo começou com uma vontade/desejo de salgadinho/ele comprou no atacado/de conhecida do mercado", começa uma letra, que continua: "mas o detalhe que a gente não sabia/era a madrasta quem fornecia". Outra canção vai na mesma linha: "pode acionar o tribunal/a coxinha da madrastra/vai bombar no carnaval", diz.

"Fazer marchinha brincando com a política é uma tradição do carnaval brasileiro. A coisa foi feita para brincar, não para arranjar briga. Quando o advogado ligou para dizer que o vereador tinha se sentido ofendido, tirei do ar. Mas já tinha perdido totalmente o controle da situação", explica Flávio Henrique, que ficou impressionado com a dimensão que o tema ganhou nas redes sociais.

Em férias nos Estados Unidos até a próxima quarta-feira, o vereador Léo Burguês não foi localizado. Mas, em sua página na rede de relacionamentos Facebook, publicou um texto justificando a ação de seus advogados e negando qualquer ameaça.

"O que foi conversado é que a letra possui conteúdo obsceno e, diante disso, solicitei que fosse retirada. Qualquer um na minha situação teria tido a mesma atitude, preservando com isso meus pais, minhas filhas, e todos aqueles que se sentiram ofendidos com esta marchinha", escreveu o vereador.

Burguês diz ser defensor do carnaval desde o início de sua atividade política, e afirma não considerar adequado "colocar na boca dos foliões - e crianças! - uma musica vulgar" . Para ele, as marchinhas de antigamente "não continham expressões que ofendiam a moral e os bons costumes".

"A marchinha é uma grande caricatura, não tem afirmação. Ele levou uma brincadeira à sério", defende-se o músico, para quem a canção teria se transformado em sucesso em função da indignação da população da capital mineira em relação à atuação da classe política.

"Se ouvirem a voz das pessoas que estão se manifestando, perceberão que não sou eu quem está atentando contra os bons costumes. Os que estão em dívida são os políticos", provoca Flávio Henrique.

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