Mudança. O mesmo mote que acompanhou a trajetória do PT está na base de reflexão da senadora Marina Silva (PT-AC) ao analisar o convite para se filiar ao Partido Verde e disputar a sucessão presidencial pela nova legenda em outubro de 2010.
"O PV está se propondo uma mudança e eu estou me interessando é por essa mudança... Um partido pronto e acabado não me atrairia", afirmou Marina à Reuters nesta sexta-feira.
Integrantes do PT e do PV dão como certa a troca partidária de Marina, que diz viver um momento de tensão em meio aos fortes apelos, principalmente de petistas, após 30 anos de militância petista.
A senadora acreana de 51 anos e ex-ministra do Meio Ambiente (2003-2008), que deve anunciar em breve sua opção, quer colocar no cenário nacional o tema da mudança climática e do desenvolvimento sustentável, itens que acusa estar ausentes em todos os partidos. E vê esta disponibilidade em um novo PV, reformulado e refundado.
Para ela, o Brasil está em um estágio de liderança para abrigar um movimento a favor da sustentabilidade ambiental, que se opõe ao que ela considera o desenvolvimento predatório. O país dispõe de potencial ambiental para isso, acredita.
"O desenvolvimento sustentável é algo que precisa ser colocado agora e o Brasil tem as melhores condições para a inflexão do modelo de desenvolvimento. Este debate nunca foi posto pelos partidos, mas está em curso uma mudança de mentalidade do PV", afirmou.
O PV acenou para Marina com a refundação programática, de acordo com declaração do deputado Fernando Gabeira (RJ), uma das principais lideranças da sigla.
A legenda é criticada por atuar de forma restrita em favor do meio ambiente e tem uma posição política contraditória, ao dar apoio ao governo Lula, onde ocupa o Ministério da Cultura, e à administração José Serra (PSDB) em São Paulo, em que está na secretaria do Meio Ambiente.
"Não tenho mais ilusões de partidos perfeitos e ideais... O PT tem e cometeu falhas, no PV eles foram muito transparentes, colocando os problemas", declarou.
Uma coisa Marina deixou claro na entrevista. Ela já não vê interesse em concorrer a um terceiro mandato no Senado, onde, se vencesse, completaria 24 anos de atividade.
"Quando decidi que não seria candidata ao governo do Acre e fiquei no ministério, me perguntei: 'Mais oito anos de mandato? 24 anos no Senado?' Quero estar ligada aos núcleos vivos da sociedade, onde as sementes estão germinando", contou.
SEM NOVELA
Lá se vão mais de duas semanas da iniciativa do PV e dez dias da sua divulgação. Neste período, a eventual candidatura vem sendo vista por especialistas políticos e até por analistas de bancos como um sopro de novidade no quadro eleitoral.
O foco das análises recai no potencial impacto da opção Marina na candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e a ameaça que ela colocaria à intenção de Lula de polarizar a eleição com o PSDB, levando a uma escolha plebiscitária pelo eleitor.
Em pesquisa encomendada pelo PV, Marina tem entre 10 e 28 por cento das intenções de voto. Depois de forte exposição na mídia nos últimos dias, Marina contou que agora vai se recolher, após fechar um círculo de conversas. A decisão sai em breve, muito provavelmente até o final deste mês.
"Não vou prolongar, como se fosse uma novela. Vou ficar este fim de semana e início de semana recolhida, em respeito ao PT, ao PV e a mim mesma", explicou Marina.
A senadora adiantou ainda que o possível anúncio de um novo partido virá antes da deliberação sobre a candidatura à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pode sair meses depois.
Marina evita tratar do impacto na campanha de Dilma. "Não me coloco como candidata (à Presidência). Estou tratando sobre desfiliação ou não."
Quanto a sua saída do ministério em maio de 2008, diz que não tinha mais condições políticas para conduzir as reformas estruturantes e não poupa ataques ao ex-ministro Roberto Magabeira Unger (Assuntos Estratégicos), que disputou com ela, e venceu, a prerrogativa de tocar o projeto de desenvolvimento da Amazônia.
"Ele tem uma visão equivocada da Amazônia. Acha que não importa como as pessoas ocuparam a Amazônia, é como se tivessem feito um favor", disse, referindo-se ao projeto de regularização fundiária, defendido por Mangabeira.
Marina ainda ironiza notícias de que o Planalto já estaria se armando para rebater suas críticas.
"Como sou pacifista, não vou usar armas. Argumentos são as melhores armas na sociedade."
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