A candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, saiu do grupo dos "excluídos entre os excluídos" --como ela própria diz-- para tentar ocupar o cargo mais poderoso do país. Seu objetivo: "antecipar o futuro".
Ex-ministra do Meio Ambiente do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a senadora pelo Estado do Acre empunha a bandeira do desenvolvimento sustentável sem o rompimento com os pilares macroeconômicos responsáveis pela estabilidade da economia brasileira.
Em outro fronte, sustenta a luta pela ética na política e desfere críticas aos escândalos protagonizados pelos partidos de seus concorrentes. Antecipa, no entanto, que, se eleita, procuraria a ajuda de PT e PSDB, seus adversários na eleição deste ano, para governar o país e evitar o "fisiologismo" de outras legendas.
Mas sua candidatura esbarra num obstáculo prático. Marina está em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, com cerca de 10 por cento, bem atrás de José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) e corre o risco de nem participar de um eventual segundo turno.
Não à toa, ela passou a pedir aos eleitores que votem no "candidato do coração" no primeiro turno, tentando se consolidar como uma terceira via que evite a transformação da eleição de outubro em uma espécie de plebiscito.
"A Marina representa uma coisa nova, uma campanha que não é puramente uma visão de melhora econômica contra outra visão de melhora econômica", disse à Reuters o deputado Fernando Gabeira, candidato do PV ao governo do Rio de Janeiro, que conheceu a correligionária na década de 1980.
De fala mansa e hábitos simples, Marina convive ainda com as sequelas físicas de sua dura trajetória, na qual contraiu doenças, como hepatite e contaminação por mercúrio. Em 1997, durante uma grave crise de saúde, a senadora apegou-se à fé, aderiu à Assembleia de Deus e tornou-se evangélica.
Apesar da aparente fragilidade, a parlamentar é tida como uma pessoa que não para de trabalhar e estudar. Um assessor próximo lembra, por exemplo, que ela fez uma especialização em psicopedagogia em uma universidade de Brasília enquanto dirigia o Ministério do Meio Ambiente.
A paixão pelo estudo busca compensar o tempo perdido pelos difíceis primeiros anos de sua vida, que levaram ao início tardio de sua educação formal.
Nascida em 8 de fevereiro de 1958 num seringal no Acre, a candidata mudou-se para a capital do Estado aos 16 anos, quando foi alfabetizada. Foi em Rio Branco que obteve seu primeiro emprego, como empregada doméstica. Dez anos depois, obteve o diploma de historiadora pela Universidade Federal do Acre.
"Ela lê muito em casa e dorme menos do que precisaria. Ela adora estudar", comentou um antigo auxiliar da candidata, que pediu para não ser identificado. "É uma pessoa serena, mas, como tem muita responsabilidade com aquilo que faz, ela cobra muito os assessores."
SENADORA JOVEM
Na juventude, engajou-se nos movimentos ligados à Igreja Católica e aos seringueiros. Em 1984, participou da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Acre ao lado do líder seringueiro Chico Mendes, assassinado em 1988. Filiou-se em 1985 ao PT, partido que deixou em 2009 para disputar a Presidência pelo PV.
Durante seu mandato parlamentar, Marina Silva participou com mais ênfase em debates sobre a questão ambiental, a área social e educação. Desde que entrou na corrida presidencial, no entanto, passou a estudar economia com mais afinco.
"Ela não queria mais ser candidata ao Senado, sentia a necessidade de voltar para a sociedade e que a sua contribuição como parlamentar no momento estava dada. Queria voltar para a sociedade para trabalhar com psicopedagogia ou com questões ambientais fora do Parlamento", revelou o assessor, contando que seus planos mudaram quando surgiu a oportunidade de concorrer ao Palácio do Planalto pelo PV.
Casada e mãe de quatro filhos, Marina Silva obteve seu primeiro cargo eletivo em 1988, quando elegeu-se vereadora em Rio Branco. A vitória nas eleições representou uma recuperação do revés sofrido dois anos antes, quando não conseguiu uma vaga como constituinte.
Em 1990, conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado do Acre, de onde seguiu para o Senado em 1994 aos 36 anos, conquistando o título de senadora mais jovem da história da República.
Ela concorreu à reeleição em 2002 e venceu, mas licenciou-se do cargo para assumir o cargo de ministra do Meio Ambiente em 2003.
Após enfrentar diversas disputas por tentar impedir o avanço de projetos de infraestrutura e da área da agricultura que pudessem prejudicar a natureza, deixou o governo em maio de 2008. A candidata do PT à Presidência, a ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, fazia parte justamente da ala oposta à de Marina no Executivo.
Sua candidatura tem recebido o apoio de diversos artistas e é acompanhada com interesse em outros países devido à projeção que a senadora ganhou nos últimos anos. Entre as homenagens internacionais que recebeu, destaca-se o prêmio "Champions of the Earth" da Organização das Nações Unidas (ONU) por sua luta pela preservação da Amazônia.
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