A militante ambientalista Marina Silva (PV), sem mandato desde que concorreu às eleições presidenciais do ano passado, defende a realização de uma consulta popular sobre a necessidade de o Brasil utilizar energia nuclear, depois do desastre ocorrido no Japão.
A iniciativa é pessoal e está de acordo com sua posição contrária às usinas, defendida na campanha de 2010, quando recebeu quase 20 milhões de votos e foi responsável por levar a eleição ao segundo turno.
"A realidade é que está todo mundo se reavaliando (o uso da energia nuclear) e o Brasil não tem nada de excepcional que diga que aqui descobrimos a pedra filosofal para o problema nuclear", disse Marina em entrevista à Reuters na sexta-feira.
Em 11 de março, o Japão sofreu um terremoto seguido de tsunami que provocou um acidente radioativo. No Brasil, estão instaladas duas usinas na cidade de Angra dos Reis e está em vias de ter uma Angra 3. O programa prevê aumentar o total com usinas em outras regiões do país.
"Eu defendo que a bancada federal do PV trabalhe a ideia de um plebiscito para entender se a população brasileira quer ou não que o dinheiro do contribuinte seja gasto com uma energia cara e insegura, perigosa para a população do entorno e para o equilíbrio ecológico do país", disse a ex-ministra do Meio Ambiente (2003-2008) do governo Lula.
Marina acredita que os recentes desastres ambientais ocorridos no Brasil, como os deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro em janeiro, conferem sensibilidade suficiente para garantir o engajamento dos brasileiros em um plebiscito.
Para a ex-senadora que trocou o PT pelo PV em 2009, o Brasil tem que revisar o programa nuclear e o protocolo de segurança. "Esta sensação de segurança e controle com essas usinas é uma ilusão", acredita.
O PV não tem exercido nos últimos anos a prática de mobilização em relação a lutas ambientais. Nos deslizamentos do Rio, não se ouviu o PV se manifestar, por exemplo. Na Alemanha, onde os verdes conquistaram amplo espaço, foi realizada uma manifestação com milhares de pessoas logo após o ocorrido no Japão e o governo suspendeu planos sobre usinas.
"Tem que ter cuidado político de não fazer as coisas de forma oportunista, politiqueira e eleitoreira. Eu não gosto. Morre gente e vai lá faz discurso, fatura, faz foto. É uma tragédia humana", argumenta.
Ainda assim, o PV está organizando uma manifestação em Angra dos Reis em 26 de abril, data do aniversário do acidente nuclear de Chernobyl (Ucrânia), na então União Soviética, em 1986, considerado o pior da história.
Marina, que reside em Brasília, esteve em São Paulo para participar de uma mobilização de lideranças do PV que defendem a democratização da legenda, comandada há 12 anos pelo mesmo presidente, José Luiz Penna.
O grupo pretende realizar uma convenção no máximo em agosto, mas foi atropelado pela aprovação da direção nacional, neste mês, da prorrogação do mandato de Penna por mais um ano.
Ela afirmou que as mudanças na estrutura do partido e em seu programa foram uma promessa da atual direção. "Se o presidente Penna dissesse que quem escolhe os dirigentes é o presidente e que isso continuaria eu com certeza não teria entrado no partido."
O grupo, composto também pelo ex-deputado Fernando Gabeira e pelo deputado Alfredo Sirkis, entre outros, tem pressa, uma vez que a nova organização precisaria estar pronta para se preparar para as eleições municipais de 2012.
A ideia é ter candidato próprio em São Paulo, em que já há nomes como Ricardo Young, Fabio Feldmann e Eduardo Jorge.
Questionada se pretende mudar de legenda, ela mostra desagrado e diz que está "tentando mudar o partido... Levei 30 anos para fazer isso (sair do PT) não trate isso como se fosse algo volátil."
Procurado, Penna disse que concorda com a discussão das mudanças, que deveriam ser feitas em um ano. Sobre se acredita que 12 anos é muito para estar à frente da legenda respondeu: "Eu acho, minha família acha."
A ex-senadora não confirma se disputará a eleição presidencial em 2014, mas, para Penna, "Marina tem toda a condição de ser candidata."
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