O publicitário e marqueteiro Paulo Vasconcelos, que atuou nas últimas campanhas do tucano Aécio Neves (MG), respondeu ontem aos ataques do marqueteiro João Santana, que em depoimento ao jornalista Luiz Maklouf para o livro "João Santana: um marqueteiro no poder", disse que ele fizera "uso amador da mediocridade" na campanha do candidato do PSDB. Surpreso com as críticas publicadas no livro, Vasconcelos usou o humor para contra-atacar:
"O João deu uma surtada! O chá de cogumelo da juventude fez efeito retardado. Deve ser o calor. A eleição acabou e a disputa foi entre profissionais, entre CNPJs, não entre pessoas. Como ele pode dizer que nossa campanha foi medíocre? Na nossa atividade de marqueteiro, para o bem e para o mal, a eficiência se mede pelos números, pelo quantitativo. Nesse caso específico, quem mais ganhou votos no segundo turno foi o Aécio. Em apenas duas semanas, com ferramentas e tempos iguais, ganhamos 16 milhões de votos, e ele, com Dilma, ganhou 11 milhões de votos."
Metáfora futebolística
No perfil biográfico que foi lançado ontem, o publicitário de Dilma nega que tenha feito uma campanha agressiva, recorrendo a baixarias. Ao longo da disputa, Santana levou à TV propagandas que diziam que a proposta de Marina Silva, candidata pelo PSB, de independência do Banco Central deixava em risco a comida das famílias e outras que massificavam o discurso de que quem conhecia Aécio Neves não votava nele, em referência à derrota do tucano no primeiro turno em Minas Gerais que se repetiria no segundo turno.
No livro, o marqueteiro de Dilma Rousseff diz que Paulo Vasconcelos era um "marqueteiro de segunda divisão, que está caindo para a terceira". Usando a mesma metáfora da disputa de futebol, o marqueteiro de Aécio disse que conseguiu levar seu candidato para a final do campeonato e quase ganha o jogo.
"Antes do segundo turno, nós éramos um time da série B jogando no campo adversário, com um terço do tempo e com a torcida contra. Conseguimos levar esse time da segunda divisão para a final do campeonato e perdemos nos pênaltis", respondeu.
Na entrevista a Maklouf, João Santana também ironiza a tática da campanha tucana de não recorrer ao mesmo nível de agressão usado pela campanha petista. Revelou que sua estratégia para bater o adversário de Dilma no segundo turno foi a adoção da ação negativa "em ondas superconcentradas", com a escolha de temas para superbombardeio, com o objetivo de desestabilizar Aécio. E criticou a tática da reação da campanha adversária: "Aécio quis se fazer de vítima e de superior. Chegou a lançar um slogan ridículo e inócuo: a cada ataque, uma proposta".
"A única coisa que o marqueteiro não pode fazer é reescrever a História. Eu não quero levar para a minha biografia uma deselegância de responder ao João no mesmo tom. Os números estão aí. Dizer que fizemos uma campanha medíocre é chamar a maioria dos gaúchos e os 70% dos paulistas que votaram em Aécio de medíocres. Isso é um desrespeito com o eleitor", rebateu Paulo Vasconcelos.
Acusações de nepotismo
Um dos ataques feitos por Dilma a Aécio, foi a acusação de que ele teria praticado nepotismo no seu governo em Minas Gerais, empregando "uma irmã, um tio, três primos e três primas". Em um dos debates, Aécio rebateu dizendo que a irmã Andrea Neves o auxiliava de forma voluntária, sem receber salário e contra-atacou lembrando que o irmão de Dilma, Igor Rousseff, havia sido nomeado pelo então prefeito de Belo Horizonte e amigo Fernando Pimentel para um cargo na administração municipal e não teria trabalhado.
Passada a eleição, o PSDB pediu que o Ministério Público investigasse a denúncia de João Santana e obteve uma certidão atestando que não houve nepotismo nos governos de Aécio Neves em Minas Gerais. O partido divulgou ontem o documento afirmando que não teria sido "identificada situação (de nepotismo) envolvendo familiares do então governador Aécio Neves".