A presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) recebeu 54,5 milhões de votos no segundo turno. Dez milhões a mais do que no primeiro. Se tivesse de ser devedora de alguém pela vitória na eleição mais disputada desde a redemocratização, seria especialmente do marqueteiro João Santana e da militância petista, afirmam especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo.
Santana, líder da campanha de Dilma, leva crédito pelo êxito do discurso que conseguiu desconstruir dois candidatos em momentos diferentes: Marina Silva (PSB) no primeiro turno e Aécio Neves (PSDB) no segundo. "A campanha negativa sem dúvida teve êxito nos dois turnos. Destaco também o discurso de comparação entre os períodos dos governos tucano e petista", afirma o cientista social Fernando Antônio Azevedo, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Após a morte de Eduardo Campos em 13 de agosto, Marina Silva assumiu a liderança nas pesquisas de opinião e representava uma ameaça ao plano de reeleição petista. Encabeçada pelo marqueteiro, a campanha de Dilma comparou a candidata do PSB ao ex-presidente Fernando Collor, atacou suas propostas de autonomia do Banco Central, a chamou de "despreparada" e "amiga dos banqueiros". Deu certo e Marina ficou fora da segunda etapa das eleições, cedendo lugar a Aécio Neves.
O mineiro também sofreu com a força da campanha negativa do PT, que conseguiu ligar a ele a imagem de playboy que desrespeita mulher, depois de Aécio ter chamado Dilma de "leviana" durante um debate. Isso sem contar o discurso do "nós contra eles" do "povo contra a elite", fortalecido com a forte atuação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Nordeste.
Além do discurso agressivo, o professor da UFSCar destaca ainda a melhora da atuação de Dilma nos debates. "Não que necessariamente ela tenha ganho os debates, mas também não comprometeu. Durante as discussões ela atuou como um prolongamento da campanha na televisão e amplificou os argumentos", diz. Mérito de João Santana.
Outro fator decisivo que pesou no triunfo foi a tradicionalmente forte militância petista. "O Partido dos Trabalhadores tem uma alta capacidade de mobilizar associações de bairro, líderes comunitários e outras lideranças locais. Isso unido a uma mensagem de medo, de que projetos vinculados ao social pudessem ser extintos, foi o fator decisivo", afirma Roberto Gondo Macedo, professor de comunicação política da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Muito além do discurso, o PT tem a característica de aglutinar massas e inflar a militância em momentos considerados chave. Ao contrário do PSDB, que não é um partido de membros fortes e atuantes. "Isso faz e fez a diferença", destaca o professor da Mackenzie.
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