Marta: saída da ministra era esperada, mas o tom da carta de demissão desagradou o Planalto| Foto: José Cruz/Abr

Autocrítica

Dilma "avançou pouco", afirma o ministro da Secretaria da Presidência

Agência O Globo

Em entrevista à BBC Brasil na segunda-feira, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que a presidente Dilma Rousseff "avançou pouco" em relação às demandas dos movimentos sociais e se afastou dos "principais atores na economia e na política". Segundo ele, também faltou "competência e clareza" ao governo para avançar na questão indígena.

Ao fazer um balanço do governo Dilma, Carvalho destacou que, ainda que a presidente tenha prometido ampliar o diálogo com a sociedade, "deixou de fazer da maneira tão intensa, como era feito no tempo do Lula, esse diálogo de chamar os atores antes de tomar decisão, de ouvir com cuidado, e ouvir muitos diferentes, para produzir sínteses que contemplassem os interesses diversos". Para ele, a deficiência se deu "sobretudo no diálogo com os principais atores na economia e na política".

Em relação aos movimentos sociais, Gilberto Carvalho disse que nessa área não faltou diálogo, mas que não houve o atendimento das demandas. "A reforma agrária e a questão indígena avançaram pouco. A reforma urbana – das estruturas de funcionamento das cidades, da mobilidade urbana – também não foi o que os movimentos esperavam", disse.

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Carvalho: faltou diálogo
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A ministra da Cultura, Marta Suplicy (PT-SP), pediu ontem demissão e saiu do cargo criticando duramente o governo da presidente Dilma Rousseff. Afirmou esperar que Dilma escolha uma equipe econômica independente e experiente para resgatar a credibilidade do governo e garantir o crescimento do país – o que deixou claro o entendimento dela de que teria havido ingerências indevidas na condução da economia. Essa é a segunda manifestação crítica contra o Planalto feita nesta semana por um ministro do PT. Na segunda-feira, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, já havia apontado a dificuldade de diálogo da administração da petista.

Marta comunicou sua decisão à Presidência e anunciou sua saída do cargo por meio de uma carta publicada no Facebook. "Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora [Dilma] seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país", afirmou Marta no texto.

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Desentendimentos

A saída de Marta da Espla­­na­­da já era esperada na reforma ministerial que Dilma fará para o segundo mandato. Mas o anúncio público surpreendeu o Planalto, que não esperava a demissão agora tampouco o tom crítico com que ela deixa o governo.

A ministra tinha se desentendido com a ala majoritária do PT. Marta patrocinou um jantar que ofereceu a partidários do lançamento da candidatura do ex-presidente Lula à Presidência. Além disso, ela havia exonerado os petistas do ministério para dar lugar a integrantes do PCdoB, o que também a desgastou.

Um incidente na campanha, porém, foi decisivo. Durante uma carreata em São Paulo, Marta se irritou ao saber que seu suplente no Senado, o vereador Antônio Carlos Rodrigues (PR-SP), era quem ocuparia o carro em que estaria a presidente Dilma. Para Marta, foi destinado um segundo carro. Mas ela subiu no veículo de Dilma mesmo assim. E, antes, bateu boca com o presidente do PT, Rui Falcão.

Sucessor

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Marta retomará sua vaga como senadora por São Paulo.Sua substituta imediata na pasta é a secretária-executiva do ministério, Ana Cristina Wanzeler. Mas o mais cotado para ocupar a titularidade da Cultura é Juca Ferreira, que já foi ministro de Lula. Hoje ele é secretário municipal de Cultura de São Paulo.

No Planalto, saída causou ‘perplexidade’ doha (Catar)

A carta de demissão de Mar­­ta Suplicy do Ministério da Cultura pegou de surpresa a comitiva de Dilma Rousseff que chegou a Doha, no Catar, onde a presidente fez escala antes de ir para a Austrália para participar de um encontro do G-20 (grupo das 20 maiores economias do planeta) . Dilma e seus assessores desembarcaram na cidade por volta de 16h (11h, horário de Brasília), pouco depois de Marta oficializar em Brasília sua saída. E poucos sabiam da demissão.

No Palácio do Planalto, a data escolhida, a forma e, principalmente, o teor da carta causaram "perplexidade". Auxiliares da presidente lembraram que Dilma estava em Brasília até o meio da tarde de anteontem, e que a praxe seria a ministra pedir demissão no dia anterior. Marta não só entregou sua carta de demissão com Dilma fora do país, como também não esperou que ela fosse divulgada pelo Planalto, como é o costume. Logo depois de protocolar a carta na Casa Civil, a ministra divulgou o conteúdo.

Auxiliares de Dilma classificaram que o tom da carta também foi deselegante e desnecessário. "Pegou mal", avaliou um interlocutor da presidente que pediu para não ser identificado. O gesto de Marta foi interpretado como um primeiro passo para sair do PT. Ela já estaria se aproximando do PMDB, através do presidente em exercício, Michel Temer, que também preside o partido. Lideranças petistas afirmavam ontem que Marta pode deflagrar desde já o processo de disputa interna pela candidatura para a prefeitura de São Paulo, com o objetivo de gerar uma crise que justifique legalmente sua saída do PT.

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