Depois de uma intensa crise com seu partido e de críticas abertas à presidente Dilma Rousseff, a senadora Marta Suplicy entregou na manhã desta terça-feira sua carta de desfiliação do PT. O documento foi endereçado aos diretórios municipal, estadual e nacional da legenda. O partido que Marta ajudou a construir disse que vai ingressar na Justiça Eleitoral para obter o mandato da senadora.
“Só nos resta buscar nossos direitos”, disse Jorge Coelho, vice-presidente do Diretório Nacional, que lamentou a decisão de Marta: “A gente só lamenta que tenha sido desta maneira, sem debate e sem condições de contrapor os argumentos dela”, comentou.
O vice-presidente do Diretório Nacional admitiu não ser fácil obter o mandato, já que o TSE já deu ganho de causa a outros senadores que deixaram suas legendas.
“Mas a gente batalhou muito para eleger a Marta não só como senadora, mas em todas as vezes que ela se candidatou”, disse.
Marta deixa o PT para disputar a prefeitura de São Paulo no ano que vem, contra o prefeito Fernando Haddad, petista. Em sua festa de aniversário, no mês passado, anunciou que ingressaria no PSB, do vice-governador de São Paulo, Márcio França. A migração de legenda tem anuência do PSDB, do governador Geraldo Alckmin.
Francisco Rocha, o Rochinha, coordenador da tendência majoritária do PT, da qual Marta sempre fez parte, criticou a decisão da senadora, mas disse que a notícia da desfiliação não surpreendeu os petistas. A senadora viveu um verdadeiro litígio com o PT nos últimos meses.
“ É uma perda para os dois lados. Historicamente, todos os que saíram do PT para tentar uma aventura fora se deram muito mal. Pau que bate em Chico bate em Francisco”, disse Rochinha, para quem, em suas palavras, a eventual candidatura de Marta não mudaria as chances de Haddad ser reeleito.
Para o cientista político Carlos Melo, do Insper, a entrada de Marta na sucessão municipal faz com que Haddad dispute o pleito com uma adversária de seu próprio campo, complicando sua tentativa de reeleição. Por outro lado, a ex-petista vai atrair eleitores que hoje estão contra o partido do prefeito.
“Os dois concorreriam na mesma faixa (entre eleitores da periferia e votos à esquerda), mas é verdade também que ela tem potencial para pegar o voto anti-PT, conquistando eleitores do PSDB e de outros partidos. Ela está numa franja de oposição ao PT que hoje é muito grande”, disse o especialista.
Segundo Melo, Marta deixou o PT porque se sentia “preterida” em diversas ocasiões:
“Marta vinha em rota de choque com o PT há muito tempo e, ultimamente, vem em um jogo de cotoveladas muito grande. Marta tem uma avaliação a respeito de si própria bastante positiva, achando que deveria ser candidata e acabando preterida pelo partido. Sua meta, agora, é ser prefeita e ela faz críticas que têm eco na sociedade. Mas não está deixando o PT apenas por indignação, mas por ter seu espaço cerceado.”
Na opinião de Carlos Melo, o andamento da pauta no Congresso Nacional pode determinar ainda novas baixas no PT. Um dos insatisfeitos com o partido e o governo é o senador Paulo Paim (PT-RS), que já ameaçou deixar a legenda caso não haja modificações no ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.