Em 1993, quando completou 50 anos, Carlos Ayres Britto escreveu uma poesia chamada "Cinquentão": "Fiz cinquenta anos./ Só preciso de mais uns dez/ Para me sentir completamente/ jovem". Pelas suas contas, hoje, aos 69 anos, o ministro está no auge da juventude. Ayres é repentista, que olha uma situação e logo produz um versinho. Dia desses, disse para os assessores em seu gabinete: "Advogado de porta de cadeia acaba entrando".
A produção poética e os trocadilhos não se limitam à vida privada. Nos julgamentos no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro gosta de improvisar, de citar autores ou a si mesmo. Já recitou em plenário algumas vezes uma poesia chamada "Liberdade", de sua autoria, de 1964: "A liberdade de expressão/ em verdade/ é a maior expressão/ da liberdade".
Apesar de estar sempre atarantado com os processos do tribunal, Ayres Britto gosta de espairecer. O ministro acorda todos os dias antes do nascer do sol para meditar. Não come carne e faz caminhadas diárias. Sempre arranja um tempo de encontrar amigos poetas, nos cafés de Brasília ou mesmo nas casas deles. Semana passada, teve um encontro com Manoel de Barros, poeta cuiabano de 94 anos que, inclusive, foi convidado para a cerimônia de posse ocorrida na quinta-feira.
Além do amor pela poesia, o ministro gosta de meditar diariamente, bem cedo. "Quando a gente esquece/ por muito tempo/de se alegrar,/ por muito tempo as coisas/ se lembram de piorar", escreveu no poema "Causa e efeito". Apesar de não cultivar inimizades publicamente, tem na ponta da língua uma tirada para referir-se a eventuais algozes: "Não interrompa o inimigo enquanto ele estiver errando".
Ayres Britto nasceu em Propriá, no interior de Sergipe, e mantém até hoje o mesmo sotaque. Formou-se em Direito pela Universidade Federal de Sergipe em 1966 e fez curso de pós-graduação para Aperfeiçoamento em Direito Público e Privado na mesma instituição. Na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, fez mestrado em Direito do Estado e doutorado em Direito Constitucional. Atuou como advogado e ocupou cargos públicos em Sergipe, como os de consultor-geral do estado, procurador-geral de Justiça e procurador do Tribunal de Contas.
Publicou ao longo da vida cinco livros jurídicos e seis de poesia. Está com mais um pronto para ser editado de poesia. É casado com Rita, uma mulher que faz seus olhos brilharem de orgulho sempre que mencionada, e tem cinco filhos.
No plenário, quando há discussões, é o primeiro a tentar pacificar os ânimos. Foi nomeado para o STF em 2003, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi relator de ações nas quais o tribunal decidiu questões polêmicas, como a liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias, a demarcação integral e contínua da área indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, e o reconhecimento da união estável de homossexuais.
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