Escolas abertas, mas sem alunos. Essa foi a realidade dos colégios localizados no Complexo do Alemão, na Zona Norte, nesta sexta-feira. A Força Nacional mantém soldados em 27 pontos de acesso ao conjunto de favelas ( a maioria dos leitores apóia a megaoperação) Apesar do dia ter amanhecido mais calmo e sem tiroteios, com medo da violência que assola o conjunto de favelas há quase dois meses e que culminou na megaoperação policial realizada na quarta-feira, muitos pais preferiram não levar seus filhos para a escola ( veja o especial do Extra sobre a operação ). Foi o que aconteceu, por exemplo, nas escolas municipais Afonso Várzea e Vera Saback, na Fazendinha. De acordo com dados da Secretaria municipal de Educação, a freqüência estava abaixo de 5%.
O governador do Rio, Sérgio Cabral, afirmou que a segurança pública continuará sendo uma das prioridades de seu governo no segundo semestre. Cabral ressaltou ainda que não há saúde e educação e transporte de qualidade sem segurança pública :
- Eu posso garantir que segurança pública é a primeira das liberdades. Sem segurança, nós não conseguimos oferecer educação, saúde e transporte de qualidade. A segurança é a nossa prioridade, mas é evidente junto com educação e saúde.
Em uma nota divulgada em seu site, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) condenou os ataques contínuos a estudantes e a estabelecimentos de ensino em diferentes partes do mundo. O fundo afirmou ainda que, em lugares onde o sistema educacional continua a funcionar, estudantes enfrentam sérios riscos para freqüentar as escolas. O texto dá como exemplo o Brasil, referindo-se ao Complexo do Alemão, onde as escolas têm sido fechadas devido aos confrontos entre policiais e traficantes .
Em entrevista ao telejornal "RJ TV", o diretor do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense, o psicólogo Ronaldo Leão, disse que a violência é o resultado da ausência do poder público na região. Ele acrescentou que virá com a atuação policial junto com o oferecimento de serviços públicos:
- Essa é a primeira vez que se faz uma tentativa séria de retomar o controle do estado real, uma área significativa do espaço urbano brasileiro. O que resolve a situação é ter a polícia junto com o resto do Estado, o educador, o professor, o médico, o dentista, o psicólogo.
Atuação semelhante foi defendida pelo Viva Rio. A coordenadora de segurança do Viva Rio, Ilona Sabo, disse que operações policiais como as de quarta-feira são importantes, mas que o estado também precisa de plano de investimentos sociais nas comunidades.
- Tem que pensar o que vai ser depois, para que a ordem pública seja garantida, para que todos os serviços voltem a ser oferecidos a essa comunidade. E que em outras situações esse planejamento também seja diferente disse ao telejornal RJTV.
A antropóloga Alba Zaluar faz eco e diz que é "louvável garantir o direito de ir e vir dos moradores", que têm suas vidas controladas por bandidos.
- Os traficantes estão cada vez mais cruéis, dominando o morro e arredores. Por causa disso, o médico não consegue trabalhar, a criança não vai à escola. Esse espaço público precisava ser devolvido aos moradores - disse Alba Zaluar, que criticou o fato de os confrontos de quarta-feira acontecerem sem a devida proteção a crianças e idosos.
Necessidade de melhorias
Agentes da Força Nacional de Segurança (FNS) continuam nos principais acessos do conjunto de favelas. No fim da tarde desta sexta-feira, houve um novo confronto entre policiais e traficantes no Alemão. ( veja fotos da quinta-feira no Alemão). Na próxima segunda-feira, a comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ deve se reunir com o Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. O presidente da comissão, João Tancredo, criticou a ação policial nas favelas e afirmou que dos 19 mortos na operação no Alemão, apenas oito eram bandidos . Os demais não estariam envolvidos com o crime organizado.
A região onde fica o Complexo do Alemão já foi uma importante área industrial, mas ao longo dos anos foi perdendo espaço para a violência . Agora, além da ação policial, existem projetos de urbanização e serviços que precisam ser implantados para melhorar a vida de cerca de 97 mil pessoas, segundo o IBGE, que moram nas favelas do conjunto.
O governo do estado já anunciou que a região vai receber investimentos vindos dos recursos do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal. São melhorias que passam pelas áreas de transporte, lazer, educação e saúde. Dois desses projetos são inovadores: o teleférico, um sistema de transporte que vai ligar vários pontos do conjunto à estação de trem de Bonsucesso, e um parque com cerca de 300 hectares, o equivalente a 300 campos de futebol.
- Nós estamos com previsão de começar em setembro com licitação e obra em outubro. Vamos fazer diversas intervenções dentro daquele bairro, alargando as ruas, realocando pessoas que estão em áreas de risco, entrando com saúde, escola, parque disse o vice-governador, Luiz Fernando Pezão.
Nas ruas, moradores da área reconhecem que as ações são necessárias e bem-vindas.
- É importante para a população - diz um jovem.
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