Os nove pontos de vantagem que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), abriu sobre a ministra Dilma Rousseff (PT), segundo pesquisa Datafolha divulgada no sábado, redobraram no presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, a expectativa de sair da instituição nesta semana e se tornar candidato a vice na chapa da pré-candidata do PT ao Planalto. A reportagem apurou que Meirelles deixa o BC na condição de político filiado ao PMDB que, formalmente, vai disputar uma vaga ao Senado por Goiás.
No fim de semana, às vésperas do prazo final para a desincompatibilização do cargo, Meirelles esteve em Goiânia e consultou a família sobre a decisão de deixar o BC e voltar à vida pública, enfrentando mais uma campanha. Em 2002, ele foi o deputado federal mais votado de Goiás, elegendo-se pelo PSDB. Logo depois, embora as urnas o tivessem transformado em um banqueiro tucano, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, escolheria seu nome para assumir a presidência do BC do governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, Meirelles afirmou que a decisão de deixar o BC "só será tomada nos próximos dias". Assessores do Planalto dizem que o martelo será batido após encontro, nesta semana, com o presidente Lula, mas, na prática, a conversa final seria apenas "uma despedida". O nome do economista gaúcho Alexandre Tombini, 46 anos, diretor de Normas, continua sendo o mais cotado para substituí-lo no comando do BC.
"Essa é uma decisão de foro pessoal. Diria até que é uma decisão simples, pois só existem duas alternativas: fico ou não", disse Meirelles no início da tarde de ontem, entre uma visita familiar e um almoço de confraternização em Goiânia. Se sair, poderá retornar à iniciativa privada ou continuar na vida pública.
Nas últimas semanas, o ex-presidente mundial do BankBoston voltou a mencionar em conversas particulares a possibilidade de retornar ao mercado. Mas a alternativa mais tentadora, com larga vantagem, ainda é a vida política e a disputa eleitoral.
Ainda que de maneira monossilábica, o presidente do BC comentou a nova pesquisa de intenção de voto. Para ele, o resultado, mostrando que José Serra subiu de 32% para 36%, enquanto Dilma oscilou dentro da margem de erro, de 28% para 27%, aponta uma "acomodação natural" da candidata do PT.
Entre os defensores do nome de Meirelles como candidato a vice na chapa de Dilma, incluindo aí o próprio Lula, predomina a avaliação de que o presidente do BC poderia trazer apoio do mercado financeiro à candidata petista. Ele desempenharia em 2010 o papel exercido pelo empresário José Alencar na candidatura vitoriosa de Lula em 2002 - uma espécie de avalista da manutenção das regras econômicas.
Enfrentando resistências entre os próprios peemedebistas, por ser recém filiado, e um calendário eleitoral desfavorável, que o obriga a sair agora do governo, mas que joga para junho a definição do candidato a vice, Meirelles terá que abraçar o plano alternativo de ser, por enquanto, candidato ao Senado.