Consultado sobre a possibilidade de ocupar o Ministério da Fazenda, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles exigiu uma espécie de “porteira fechada” para aceitar a missão. A condição apresentada por ele para assumir o posto, segundo relato de dois interlocutores, é a de ter carta branca para mudar até mesmo o comando do Ministério do Planejamento e do Banco Central, além de autonomia para mexer na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil.
A sondagem informal a Meirelles foi feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em público, nega a iniciativa. Lula desembarcou em Brasília para mais uma rodada de conversas políticas. O ex-presidente do Banco Central desmentiu qualquer convite “concreto” para a Fazenda.
Duas pessoas que conversaram com ele, porém, confirmaram à reportagem que Meirelles avalia como essencial ter liberdade para fazer mudanças na equipe econômica, caso venha a dirigir a Fazenda.
Irritada com o que chama de “boataria”, a presidente Dilma Rousseff ainda resiste em trocar Joaquim Levy por Meirelles. O máximo que ela admite é o “ajuste do ajuste”, ou seja, um “respiro” na dureza da política econômica, para injetar mais crédito na praça.
Dilma não gosta de Meirelles, com quem teve duros embates quando era chefe da Casa Civil, no governo Lula. Diante de tanto bombardeio, porém, a dúvida no mercado financeiro é por quanto tempo Levy vai aguentar.
Dirigentes do PT, senadores e deputados do partido querem a saída de Levy, mas a grande maioria não concorda com Lula na opção por Meirelles. O PT quer entregar a Fazenda para o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, considerado mais “desenvolvimentista”.
Desgastado, Levy vai atrás do apoio de senadores
Em ato simbólico num momento de desgaste político e rumores de que perderá o cargo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, divulgou nesta quarta-feira (11) nota para agradecer a oportunidade por ter sido “ouvido” por um grupo de 40 senadores durante jantar na terça-feira. A documento é praticamente um manifesto público do ministro em defesa das razões que justificam os fundamentos da sua política e na ênfase dada por ele na necessidade de ajuste fiscal.
O encontro ocorreu da residência do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) no mesmo dia em que aumentou em Brasília a pressão do PT para que a presidente Dilma Rousseff substitua o ministro Levy pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.
Na nota, Levy elogia os senadores e os classifica de “mais alta liderança do país”. Inicialmente, a nota foi divulgada com o título de “agradecimento aos senadores do PMDB”, o que foi interpretado como um gesto de aproximação na direção das lideranças peemedebistas em detrimento dos senadores petistas. Mais tarde, a Fazenda corrigiu a saia-justa com o PT e os senadores de outros partidos também presentes no jantar, e informou que tinha cometido um erro. Tratava-se, na verdade, segundo a assessoria do ministro, de um agradecimento a todos os senadores. “O compromisso com o Brasil e o espírito de cooperação entre a mais alta liderança do País na busca de soluções nesse momento de tantas incógnitas foram as principais impressões que levei daqueles momentos”, afirmou Levy.
Sob bombardeio contínuo do PT e de ministros do governo que querem tirá-lo do cargo, Levy aproveitou a oportunidade para reiterar sua estratégia de reforço do ajuste fiscal. Segundo Levy, a segurança fiscal, que diminui os temores das pessoas e dá visibilidade ao futuro, é a base das outras ações para o desenvolvimento.
Desafios
Levy disse que sua estratégia é abrir oportunidades para novas empresas e empreendedores, dando chance para o País vencer em um mundo ainda com baixo crescimento, mas onde ocorrem extraordinárias mudanças tecnológicas que impactam os modos de produção e de consumo em todos os países.
Na avaliação do ministro, o Brasil já enfrentou muitas crises e conseguiu sair mais forte delas. Numa alfinetada indireta aos seus colegas de Esplanada, Levy disse que os desafios de curto prazo serão superados “se enfrentados” com clareza no diagnóstico e unidade.
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