Empossado na manhã desta segunda-feira (21) como um dos 96 membros do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (o Conselhão) do governo federal, o arquiteto, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná Jaime Lerner concedeu uma rápida entrevista à Gazeta do Povo ao final da reunião do grupo, no Palácio do Planalto, e antes de seguir para um almoço no Palácio da Alvorada. Questionado sobre o motivo de ter aceitado o convite para integrar o Conselhão do presidente Michel Temer, Lerner justifica que saiu da vida pública e que não se arrepende, mas que colegiados desse tipo são importantes e o atraem. Vejo trechos da entrevista:
O senhor está afastado há mais de 10 anos da vida pública. Por que participar agora do Conselhão do Temer?
Já são 15 anos afastado... É importante participar... Porque a pluralidade dos pontos de vista, por parte de lideranças importantes, que deram sua contribuição, serve para a gente ter realmente um panorama. Acho muito gratificante. Então eu não poderia faltar a essa convocação. Eu participo de muitos conselhos internacionais e é bom. É uma maneira de se conseguir captar as várias opiniões, as várias preocupações da sociedade brasileira.
O senhor acabou não tendo oportunidade de falar nesta primeira reunião. A maioria dos conselheiros que discursou pediu reformas, como a da previdência, a trabalhista, a tributária, a política. O senhor tem a mesma visão?
Eu sou a favor dessas reformas. O problema é o tempo. O Brasil tem pressa. Não pode ficar esperando que essas reformas aconteçam. Elas têm que ser trabalhadas, mas tem coisas que podem ajudar a população brasileira de imediato, que não dependem de excesso de recursos ou de aprovação [no Congresso Nacional], e que podem ser conduzidas paralelamente, enquanto as reformas são discutidas.
Que coisas?
A questão das cidades, por exemplo. O Brasil poderia dar um grande exemplo, de como resolver melhor os problemas das cidades. A cidade é o último refúgio da solidariedade. É muito importante. Mas, muitas vezes, no nosso país a gente faz tudo para não fazer...
O senhor aprovou a vitória do Rafael Greca para a prefeitura de Curitiba?
Eu não me envolvi na eleição em Curitiba.
Mas votou em quem?
O voto é secreto... Eu deixei a vida pública exatamente para não participar do processo eleitoral.
É que o senhor falou da importância das cidades no processo todo e o senhor ainda vive em Curitiba...
Sim, vivo lá. E Curitiba ainda é uma referência importante... Mas eu achei que era conveniente não me envolver na eleição. Se eu quisesse participar da vida pública, então eu iria disputar votos. Me afastei e não me arrependo. Acho que tem maneiras de a gente contribuir sem exercer cargos.
Como o governo Temer tem se saído, na sua visão?
Acho que é muito cedo [para comentar]. O governo Temer está batalhando, procurando fazer o possível. Mas algumas coisas podem ser feitas imediatamente. E outra coisa: fala-se tanto em reforma política, e por que não acabam com o tempo gratuito na televisão para os partidos? Isso é uma moeda de troca, moeda de corrupção, entre os partidos. E isso nunca aparece na discussão da reforma política.
O nome do senhor foi envolvido na recente Operação Nosotros, da Polícia Federal de Tocantins [que investiga suposta corrupção na implantação do sistema de ônibus BRT de Palmas, capital do estado]. Qual relação o senhor tem com o BRT de Palmas?
Nada. Nenhuma relação. A minha equipe criou o BRT [Bus Rapid Transit, o sistema de ônibus em vias exclusivas], que foi reproduzido em mais de 200 cidades do mundo. E a resposta infantil da investigação [da PF] é que eu fui o iniciador do BRT [em Palmas]. Não tive nada a ver com o projeto. Eu me senti injustiçado e estou tomando as providências necessárias. Um absurdo.