“Nos debates a que tenho ido, as pessoas só querem saber sobre água, ruas, ônibus e saúde. Ninguém quer saber de mensalão.” Gustavo Fruet (PDT), pré-candidato a prefeito com apoio do PT| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Caso Cachoeira

Conselho de Ética deve aprovar relatório pela cassação de Demóstenes

Agência O Globo

A cassação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) deve ser aprovada por unanimidade, segunda-feira, no Conselho de Ética do Senado, muito mais pela pressão gerada pelo voto aberto do que por convicção real dos senadores. A não ser que haja decisão judicial em favor de Demóstenes neste fim de semana, o Senado concluirá segunda-feira a primeira fase do processo por quebra de decoro. A decisão final, com voto secreto em plenário, deve ocorrer antes do recesso parlamentar, dia 18 de julho.

O relator do processo, Humberto Costa (PT-PE), para sustentar a tese da quebra de decoro parlamentar por Demóstenes, vai alegar em seu parecer pelo menos três princípios: que ele mentiu em discurso, no plenário do Senado no início de março, ao afirmar que sua relação com o bicheiro Carlinhos Cachoeira era só de amizade; que utilizava o mandato para defender interesses do contraventor; e que o colega goiano reconheceu, no depoimento ao conselho, ter recebido presentes e vantagens considerados indevidos como um rádio Nextel e de cozinha importada.

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A realização do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal a partir do dia 1.º de agosto, ou seja, a três meses das eleições municipais, deverá trazer constrangimentos não apenas para os candidatos petistas mas também para antigos adversários políticos que, agora, terão de enfrentar as urnas na condição de aliados do partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Das quatro principais "estrelas" da CPI dos Correios, que em 2005 investigou o esquema de repasse de dinheiro a aliados do governo Lula no Congresso, duas deixaram a condição de acusadores e hoje estão ao lado do PT. São eles os ex-deputados federais e ex-tucanos Eduardo Paes (PMDB), que tentará a reeleição para a prefeitura do Rio de Janeiro, e Gustavo Fruet (PDT), que disputará a prefeitura de Curitiba. Adversários implacáveis do PT e do governo Lula em 2005, os dois atualmente têm o apoio de petistas e de boa parte dos partidos da base aliada federal.

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Paes já recebeu uma visita do ex-presidente Lula, que prometeu fazer campanha para ele, repetindo o que ocorreu em 2008. Fruet fechou acordo com o casal de ministros petistas Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

As duas outras "estrelas" entre os integrantes da CPI dos Correios mantêm o discurso de oposição. Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM) é pré-candidato à prefeitura de Salvador e terá justamente os petistas, que comandam o governo baiano, como adversários na eleição. Já Osmar Serraglio (PMDB-PR), que foi relator da CPI, não disputará a eleição de outubro. Ele permanece na Câmara dos Deputados.

Das investigações comandadas por Paes, Fruet, ACM Neto e Serraglio saíram os principais argumentos para a denúncia do mensalão elaborada pelo então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Sousa, contra 40 pessoas – 38 serão julgados pelo Supremo. Os ex-tucanos chegaram a pregar o impeachment de Lula. Paes não quer falar agora sobre o assunto. Procurado várias vezes na semana passada, evitou dar entrevistas.

Fruet afirma não se arrepender de nada. "Sou o guardião de minha história. Aquilo (a atuação na CPI) foi importante na época. Tanto é que todo meu relatório sobre o setor financeiro foi aproveitado pelo relator da CPI", diz o ex-deputado tucano.

Fruet afirma que nunca negou que tenha tido uma atuação visceral contra o governo e contra o PT. "Quando fechamos a aliança com o PT e com o ministro Paulo Bernardo, eu citei o episódio da CPI e lembrei das circunstâncias políticas de cada momento", afirma. Atualmente, Fruet é a aposta do PT para derrotar o prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB), que tem apoio do governador do Paraná, o tucano Beto Richa. Agora no PDT, partido que o acolheu depois que brigou com Richa, Fruet acha que o mensalão terá pouca importância em sua campanha à prefeitura. "Esse tema é de abrangência nacional. Numa disputa à prefeitura, ele não aparece. Nos debates a que tenho ido, as pessoas só querem saber sobre água, ruas, ônibus e saúde. Ninguém quer saber de mensalão."

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O deputado ACM Neto também acha que sua performance nas investigações do mensalão pela CPI dos Correios não o ajudará na busca de votos em Salvador. "Aqui os temas são diferentes." Ela acredita, porém, que pode usar sua atuação na CPI como uma espécie de vacina.