O senador Aloizio Mercadante (SP) recuou nesta sexta-feira e afirmou que desistiu de deixar a liderança do PT no Senado, atendendo a um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo fonte do governo, o gesto do presidente teve como objetivo evitar que a crise do PT no Senado se prolongasse, uma vez que a principal batalha de interesse do Executivo já fora conquistada pela base aliada --a manutenção no Conselho de Ética do arquivamento de 11 processos por quebra de decoro parlamentar contra o presidente do Senado, José Sarney(PMDB-AP).
Esse foi justamente o motivo da decisão inicial de Mercadante, que chegou a informar na quinta-feira que deixaria o cargo "em caráter irrevogável". Os votos de três senadores petistas foram fundamentais para a rejeição dos recursos apresentados pela oposição contra o arquivamento das ações sobre Sarney.
"Mais uma vez o presidente Lula me deixa numa situação que eu não tenho como dizer não", disse o líder do PT durante discurso em um plenário praticamente vazio.
No entanto, Mercadante permanece em delicada situação política, uma vez que rompeu pontes de diálogo com aliados do governo no Senado e desgastou suas relações com parte da bancada petista.
"Eu perdi uma certa condição de interlocução política nesta Casa, por exemplo, com o presidente Sarney. É evidente: é muito mais difícil ser líder nessas condições, depois de uma crise como essa", reconheceu o próprio Mercadante durante o discurso.
O presidente do Senado é considerado pelo Executivo um aliado estratégico no Congresso e na construção da candidatura à Presidência da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Ele é acusado de envolvimento com irregularidades administrativas do Senado, edição de atos secretos, emprego de pessoas ligadas à sua família e desvio de recursos públicos por meio da Fundação José Sarney.
Mercadante ressaltou que subiu à tribuna com um sentimento de frustração.
"O melhor caminho era a licença do presidente Sarney, uma licença voluntária, um gesto de grandeza, e uma apuração rigorosa daquilo que diz respeito ao Senado", destacou.
O líder do PT concordou com a tese de que parte da crise do Senado é causada pela disputa entre governo e oposição devido às eleições de 2010. Destacou, no entanto, que o PT não deveria abandonar o combate ao nepotismo e ao patrimonialismo em nome da manutenção de alianças políticas.
"Isso não pode se perder na governabilidade", disse.
"O alvo sempre foi o PT, o alvo é o presidente Lula, porque há uma disputa maior no ano que vem, mas o que acontece no Senado não é só um problema de disputa eleitoral."
Pressão e desgaste
Nos bastidores, além de Lula, diversos líderes petistas entraram em campo. O líder do PT conversou, por exemplo, com a ministra Dilma Rousseff.
Telefonaram também para ele o deputado e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (PT-SP), o presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), e o ex-ministro José Dirceu, além da líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC), a qual votou em favor de Sarney no Conselho de Ética.
O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, também falou com Mercadante e fez a ponte para que o senador se encontrasse com Lula.
Segundo Mercadante, todos os interlocutores reforçaram o discurso de Lula, que, além de receber o líder do PT no Senado no Palácio do Alvorada na noite de quinta-feira, enviou uma carta pessoal ao senador na manhã desta sexta-feira.
Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), adversário de Sarney, Mercadante saiu de cabeça erguida do episódio, pois manteve sua posição de defender o afastamento do presidente do Senado até o fim.
O peemedebista alertou, porém, para as dificuldades a serem enfrentadas daqui para frente pelo líder do PT.
"Sabe-se que há uma antipatia do Lula em relação a ele (Mercadante), e agora também tem senadores com o mesmo pensamento. Ele vai fazer o que diz o Lula ou vai fazer uma política independente?", ponderou Simon.
Já o senador Augusto Botelho (PT-RR) argumentou que Mercadante saiu fortalecido entre a maior parte da bancada da legenda, que também queria o afastamento temporário de Sarney.
"A posição dele era a mesma que a da maioria da bancada", disse. "E a maioria da bancada queria que ele permanecesse líder."
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