• Carregando...

Livre da liderança do governo — já que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) foi efetivado no cargo pelo menos até o fim da atual legislatura — o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) subirá nesta sexta-feira à tribuna para fazer pela primeira vez no ano uma análise crítica dos rumos da política econômica sustentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao longo do primeiro mandato. Para Mercadante, o grande desafio do próximo mandato de Lula é garantir o crescimento econômico de pelo menos 5% ao ano e isso, na sua opinião, não será conseguido com pequenos ajustes na política econômica e sem a abertura de um canal de diálogo efetivo com a oposição.

- Não dá para enveredarmos na concepção do velho desenvolvimentismo, pelo qual basta baixar juros e aumentar investimento público. Isso poder gerar uma bolha de crescimento, mas não é sustentável _ argumenta o senador petista que, na última segunda-feira, adiantou suas idéias ao presidente Lula durante uma conversa que durou cerca de duas horas.

Mercadante defende o aumento da taxa de investimento econômico do país para 5% do PIB, o que representaria cerca de R$ 100 bilhões. Para viabilizar isso, ele explica que seria necessário cortar gastos correntes e aumentar o investimento público.

_ Não quero fazer ajuste fiscal para aumentar o superávit primário, mas para aumentar investimento. Isso é que chamo de novo desenvolvimentismo. Estou defendendo o que acredito ser o melhor para o governo. E o melhor não é o mais fácil, mas o mais sólido _ observa.

Na avaliação de Mercadante, o governo precisa mudar sua política monetária, que hoje consome 8% do PIB, reduzindo a taxa de juros, e avançar na reforma da Previdência para alavancar investimentos. Ele faz um alerta ainda para o fato de o Congresso Nacional, no bojo da discussão orçamentária, estar abdicando do redutor de gastos, o que deixa o índice de investimento como única variável de ajuste.

_ Em 2005, a taxa de investimento foi de 0,6% do PIB. Hoje o Estado investe 2,2% do PIB, incluindo as estatais, e o setor privado 17,8%. Se conseguirmos elevar os investimentos públicos para uma margem de R$ 20 a 25 bilhões por ano, também poderíamos alavancar o investimento privado _ prevê.

Mas para avançar neste caminho, Mercadante reconhece a importância de o governo Lula reestabelecer um canal de diálogo com a oposição. Na sua opinião, esse seria o caminho para barrar algumas propostas que começaram a ser defendidas pelos partidos de oposição em meio a campanha eleitoral, como a que prevê um reajuste de 16% para os aposentados e pensionistas que ganham acima do salário mínimo ou mesmo a idéia de estabelecer um décimo-terceiro para o Bolsa Família.

_ Governo e oposição precisam descer do palanque e colocar o crescimento e emprego como prioridade. Nosso desafio é crescer 5% ao ano. Não podemos continuar sendo o último entre os países emergentes _ acrescenta.

Depois da conturbada derrota na disputa pelo governo de São Paulo, em que teve de administrar o envolvimento do coordenador de sua campanha, Hamilton Lacerda, no escândalo da compra de dossiê contra os tucanos, e agora longe da liderança do governo, Mercadante só agora se sente mais à vontade para externar suas divergências em relação à política econômica mantida pelo governo.

_ Como líder, eu falava pelo governo. Agora, falo em defesa do governo, mas com liberdade para sugerir, propor e criticar. Que fique claro que não estou disputando nenhum cargo, mas acho que é o momento para discutirmos idéias e propostas para o país _ explica.

Mercadante disse que avisou o presidente Lula que não gostaria de voltar a ocupar a liderança do governo logo depois da sua conturbada derrota na disputa pelo governo de São Paulo, em que teve administrar o envolvimento do coordenador de sua campanha, Hamilton Lacerda, no escândalo da compra do dossiê contra os tucanos. Em rota contrária à de Mercadante, a bancada do PT trabalha para manter a liderança do governo no Senado nas mãos do partido.

A líder do PT, senador Ideli Salvatti (SC), confirmou na quinta-feira que já solicitou uma audiência com o presidente para levar a reivindicação da bancada. Esse, aliás, foi um dos temas principais de duas reuniões da bancada realizadas nesta semana.

_ Dentro do possível, gostaríamos que a liderança do governo permanecesse com o PT. Mas é claro que essa é uma escolha do presidente _ admite Ideli.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]