Metrô fazia apenas 'fiscalização visual' nas obras da linha 4, diz engenheiro

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O engenheiro Cyro Mourão Filho, do Departamento de Fiscalização do Metrô, admitiu em uma audiência pública, na Assembléia Legislativa, que o Metrô faz apenas uma fiscalização visual das obras de construção da linha 4. Segundo ele, fica a cargo do consórcio Via Amarela, responsável pelas obras, fazer a instrumentação e a análise de toda a construção.

Mourão Filho prestou depoimento por duas horas nesta quarta-feira. Outro funcionário do metrô, o chefe do canteiro de obras, José Roberto Leite Ribeiro, disse que a empresa emitiu 197 relatórios de não conformidade, documentos que indicam ações do Consórcio Via Amarela que não estavam de acordo com o contrato fechado com o metrô.

Em todo o seu depoimento, o engenheiro Cyro Mourãodiminuiu a importância do relatório que entregou à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, que apontava rachaduras no túnel que desabou no dia 12 de janeiro.

- O túnel não tinha evidências de que estava em perigo. O relatório é claro na demonstração de que existia uma tendência de movimento de pé (solo). Isso é uma coisa corriqueira. O túnel faz uma movimentação e é corrigido. É como um vôo de avião, vai perdendo a altura e depois corrige - afirmou.

Segundo ele, essa movimentação de solo foi muito pequena e não havia urgência para a reparação. Os tirantes, que dão sustentação ao túnel, iriam ser colocados quando a obra desabou. O engenheiro disse que, às 11h do dia do acidente, um técnico e um engenheiro passaram pela futura estação Pinheiros e não detectaram problemas no túnel. Em outro momento da audiência, no entanto, Mourão Filho afirmou que o engenheiro que esteve no local, de nome Marcelo, era recém-formado e com pouca experiência. Ainda de acordo com Mourão Filho, o local era tão seguro que todas as sextas-feiras, o Metrô permitia a visitação de estudantes e técnicos de outras regiões ao túnel. Ele disse que o consórcio cumpria exatamente o projeto.

O engenheiro não soube dizer as causas do acidente e afirmou que todos os técnicos do metrô estão perplexos com o ocorrido. Ele afirmou que as obras de construção da linha 4 estão sendo realizadas pelas mesmas empresas contratadas pelo Metrô para a construção das outras linhas. A diferença é que essas empreiteiras foram contratadas agora pelo Via Amarela. Para ele, o Metrô se beneficiou com esse tipo de contrato porque ganhou a possibilidade, por exemplo, de não perder tempo com bloqueio de ruas e a montagem da infra-estrutura para a realização das obras.

- O modelo anterior era tão eficiente quanto este. Quanto à fiscalização, posso dizer que confiamos nos resultados apresentados pelo consórcio. A análise e a instrumentação são feitas por uma empresa contratada pelo consórcio Via Amarela. Com o 'olhômetro', a gente consegue ver várias irregularidades na obra. Mas é o consórcio que tem laboratório e equipamentos e consultoria para registrar as irregularidades - explicou.

O engenheiro explicou ainda em seu depoimento que sempre ocorrem na obra detonações pequenas. Elas servem para trincar pedaços de rocha e depois serão removidos com uma carregadeira para outro local.

Ainda devem prestar depoimento nesta quarta-feira o chefe do canteiro de obras, José Roberto Leite Ribeiro, e o ex-gerente de obras do Metrô, Marco Antonio Buoncompagno, que se afastou da empresas após o acidente. Pelo menos 12 pessoas devem ser ouvidas pelos deputados estaduais. O depoimento do presidente do Metrô, Luiz Carlos David, deve ser o último a acontecer. David tinha sido convidado para uma audência pública, ainda em janeiro, mas não compareceu. Os convocados têm até 30 dias para participarem de audiência pública na Assembléia Legislativa. Segundo os deputados, a pessoa que tiver cargo e função pública e não atender à convocação poderá responder por crime de responsabilidade. Os outros podem ser denunciados pelo Ministério Público.

No início dessa semana, os deputados petistas que pertencem à Comissão de Representação, que convocou as audiências públicas, anunciaram que deixariam o grupo. Nesta quarta, houve confusão porque os deputados que permaneceram na comissão não deixaram a oposição participar da reunião. Depois de transtornos, o presidente da Comissão, deputado Valdorimo Lopes, permitiu que os deputados fizessem perguntas por apenas cinco minutos.

- O depoimento do engenheiro comprovou a opinião que nós já estávamos levantando, de que o Metrô hoje não consegue fiscalizar as obras; que o modelo de construção adotado deu plenos poderes para o Consórcio Via Amarela. A fiscalização do Metrô é um simples acompanhamento da obras, por isso eles não tiveram como detectar problemas como aqueles que provocaram o desabamento em Pinheiros - disse o deputado Nivaldo Santana (PC do B).